Cada banco de
desenvolvimento tem suas
características
próprias, seus conjuntos
de instrumentos que lhe
permitem atuar em prol
da missão de indutor do
desenvolvimento
econômico e social de um
país. No caso do BNDES,
esses instrumentos são o
Fundo de Amparo ao
Trabalhador (FAT), fonte
constitucional de
recursos de longo prazo,
e a Taxa de Juros de
Longo Prazo (TJLP), que
incide sobre os créditos
do BNDES.
No último dia 31, o
presidente do Banco
Central anunciou uma
Medida Provisória
prevendo a extinção da
TJLP. Em seu lugar, será
criada uma nova taxa de
juros de longo prazo, a
TLP, baseada no custo da
NTN-B de cinco anos.
Esse título público é
indexado à inflação
(IPCA) e paga, acima
disso, uma taxa real de
juros fixada em leilão
pelo mercado.
A extinção da TJLP,
associada à possível
intenção do governo
federal de abrir o FAT
aos bancos privados,
inviabilizará a
continuidade da ação do
BNDES como instituição
única de fomento ao
progresso nacional. E
nada será colocado no
lugar. Ficará um vazio a
ser ocupado por
instituições financeiras
que visam,
primeiramente, ao
próprio lucro, sem
compromisso com o
desenvolvimento
empresarial e industrial
do Brasil.
A nosso ver,
concretizadas essas
modificações, o BNDES,
de papel histórico no
progresso nacional a
partir da segunda metade
do século passado,
estará inteiramente
descaracterizado. Ao que
nos parece uma tática
deliberada de
enfraquecimento da
instituição, houve há
pouco a devolução
antecipada ao Tesouro
Nacional da importante
quantia de R$ 100
bilhões, abrindo-se mão
de uma fonte estratégica
de recursos.
O BNDES perderá o papel
de incentivador da
atividade produtiva.
Poderão ser agravados os
processos já em curso de
redução da capacidade
industrial brasileira,
aumento do desemprego,
perda de postos de
trabalho qualificados e
depreciação da ciência,
tecnologia e inovação.
Abdicar do BNDES
significa abrir mão
definitivamente do sonho
de nos tornamos uma
nação desenvolvida.
O momento é gravíssimo,
possivelmente o mais
dramático da história do
Banco. O desmonte do
BNDES, instituição de
Estado cujo sucesso
representa conquista
histórica do povo
brasileiro, está em
curso, capitaneado pelo
setor financeiro privado
e racionalizado por
economistas a ele
ligados. Mudanças nos
rumos fundamentais da
instituição precisam ser
determinadas em um
debate nacional, amplo e
democrático.
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(*) Este texto foi
publicado originalmente
em O Globo da última
segunda-feira (24), como
parte da seção "Tema em
discussão", quando o
jornal carioca faz um
contraponto entre a "sua
opinião" e uma opinião
diversa.
A AF não tinha ideia de
que o artigo enviado a O Globo seria publicado
desta forma, em
contraste com o
pensamento do jornal. Ou
seja: os diretores da
Associação não tiveram
acesso ao
editorial de
O
Globo quando escreveram
o artigo "Perda de
importância"; já o
jornal teve acesso ao
artigo dos diretores da
AF quando produziu seu
editorial.
Para preencher esta
lacuna, publicaremos, em
próxima edição do
VÍNCULO, nossa visão
sobre o que pensa O
Globo a respeito do
projeto de substituição
da TJLP por uma taxa de
mercado. Aguardem.