Para cumprir sua missão,
um banco de
desenvolvimento requer
instrumentos adequados.
Seu balanço precisa
casar aplicações em
ativos de longo prazo
com passivo de prazo
semelhante. Precisa de
um funding
estável de longo prazo;
e oferecer condições de
crédito compatíveis com
o equilíbrio
econômico-financeiro de
projetos de
desenvolvimento que
demandam taxas de juros
baixas e previsíveis o
suficiente para
viabilizar investimentos
cujos retornos requerem
longo prazo de maturação
e possuem níveis de
risco mais alto.
Por promoverem
investimentos com
externalidade positiva,
que geram efeitos
estruturais encadeadores
e multiplicadores, os
bancos de
desenvolvimento ampliam
a capacidade produtiva e
aumentam a produtividade
da economia. Por essa
razão possuem
fundamentos econômicos
para operar com
condições diferenciadas.
Os benefícios adicionais
justificam o uso de
subsídio, que lhes
permitem incentivar e
induzir investimentos em
setores, regiões ou
segmentos do mercado
considerados meritórios
e/ou estratégicos de
acordo com os interesses
do país, além de
permitirem que sejam
estabelecidas
contrapartidas das
empresas apoiadas –
como, por exemplo,
índices de conteúdo
nacional, metas de
exportação, inovação,
melhor governança etc.
O banco de
desenvolvimento do
Brasil é o BNDES, com 65
anos de história e
grandes serviços
prestados ao país. O
arranjo com o qual ele
opera e as condições
diferenciadas que
instrumentaliza para
cumprir sua missão são:
o Fundo de Amparo ao
Trabalhador (FAT) e a
Taxa de Juros de Longo
Prazo (TJLP). Cada banco
de desenvolvimento tem o
seu arranjo próprio,
dependendo das condições
econômicas de cada país
ou região. O KfW, por
exemplo, maior banco de
desenvolvimento alemão,
emite bonds no
mercado com avais do
Tesouro alemão (na
Alemanha e nos países
desenvolvidos as taxas
de juros são
historicamente baixas e
nos últimos anos se
encontram em níveis
reais negativos). O KfW
possui imunidade
tributária, isto é, não
paga nenhum tipo de
tributo. E, além disso,
não está obrigado a
seguir as regras de
Basileia, o que lhe
confere flexibilidade
adicional.
O FAT foi criado pela
Constituição de 1988 e é
formado com recursos da
arrecadação do PIS/PASEP
(que desde 1974, figura
como fonte de recursos
do BNDES). Diga-se que
os aportes do Tesouro
Nacional ocorreram em um
contexto no qual o FAT
havia se tornado
insuficiente face à
demanda por
financiamento para
investimentos de longo
prazo no Brasil. E a
TJLP, taxa básica dos
empréstimos do BNDES,
foi criada em 1994 como
forma de compensar o
fato da SELIC (taxa
básica da economia que
remunera os títulos
públicos e meta para a
remuneração das reservas
bancárias) ser
excessivamente alta no
país. A SELIC alta mata
os investimentos de
longo prazo; aniquila o
desenvolvimento e a
competitividade da
economia brasileira. A
TJLP é uma compensação.
Ela é relativamente mais
baixa porque a SELIC é
muito alta. E não o
contrário como quer
fazer parecer algumas
autoridades do governo
brasileiro. Além disso,
cabe destacar que a TJLP
num nível de 7% a.a. é
uma taxa alta, como
demonstrado em estudo
recente da FIESP onde
foi constatado que a
TJLP é a quarta taxa de
juros mais alta do
mundo.
A medida anunciada – de
que o governo editará
Medida Provisória para
acabar com a TJLP e
transformá-la em uma
taxa de mercado –, junto
com a já ventilada
proposta de fazer
leilões do FAT para os
bancos privados, tem o
efeito de eliminar os
instrumentos que o BNDES
dispõe hoje para ser um
banco de
desenvolvimento. Sem ter
nada para pôr no lugar –
pois não estão sendo
discutidos novos
instrumentos que
substituam os atuais que
estão sendo desmontados
–, a mudança promete
aniquilar o
financiamento de longo
prazo no Brasil, papel
este desempenhado com
excelência há décadas
pelo BNDES. As
consequências
necessárias dessa
decisão afetarão tanto a
atividade econômica,
como a geração de
emprego, já tão
sacrificadas nos últimos
anos.
Por uma questão de
soberania, o BNDES
precisa entrar no debate
nacional para que sejam
compreendidas as
implicações de se
extingui-lo como o banco
de desenvolvimento do
Brasil. Deixar o
financiamento do
desenvolvimento aos
bancos privados, que
focam no retorno de
curto prazo,
significaria entregar a
esses agentes o destino
do país. E para começar
o debate, a sociedade
brasileira precisa
responder duas
perguntas: o Brasil
precisa de um Banco de
Desenvolvimento? A quem
interessa acabar com o
BNDES?