Construindo o Brasil de amanhã
 
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fernando garcia

 
Rodrigo Mendes Leal
Economista do BNDES
 
As incertezas sobre o futuro são objeto de preocupação para
indivíduos, empresas e, naturalmente, para os governos. Uma criança nascida hoje terá 19 anos em 2035. Que oportunidade essa criança terá para desenvolver suas potencialidades? Quais os impactos das inovações atuais no futuro? Como estarão estruturadas nossas relações econômicas e sociais? Como será a divisão de poder no mundo e qual será a posição do Brasil? Em particular, quais os futuros alternativos para os quais o BNDES deve se preparar? Quais as oportunidades e desafios para seguir promovendo o desenvolvimento do Brasil?

No enfrentamento das incertezas sobre o futuro, um importante instrumento para a formulação de planejamento e de estratégias de atuação é a metodologia de cenários. Cenários são um instrumento para antecipação, ação e apropriação (Michel Godet), bem como para mudar o pensamento atual, melhorar a tomada de decisões, a aprendizagem e o desempenho (Chermack e Lynhan). O uso de cenários nos permite vislumbrar futuros não óbvios. Ao fazê-lo, podemos promover uma reflexão estratégica que contribui para a criação de futuros alternativos, evitando futuros indesejáveis.

Cenários são amplamente utilizados por empresas e governos, sendo caso emblemático sua utilização pela Shell e sua estratégia frente à crise do petróleo nos anos 1970. No Brasil, sua utilização tem como referências pioneiras, no final da década de 1970, a Petrobras e a Eletrobrás. As experiências do BNDES da década de 1980 também se tornaram referência, uma vez que introduziram alternativas de desenvolvimento brasileiro e de inserção na economia internacional, assim como "contribuíram para o planejamento estratégico do banco e levaram à introdução do cenário de integração competitiva nas formulações estratégicas do Brasil" (Buarque, 2003). Desde 2007, o BNDES retomou o uso de cenários (Castro e Souza, 2015) e tem dado continuidade na sua utilização para o planejamento estratégico.

Conforme matéria de capa do VÍNCULO 1214, de 11 de agosto de 2016, o BNDES e a AFBNDES vêm participando do projeto de elaboração de cenários prospectivos Brasil 2035, coordenado pela Plataforma Brasil 2100. Trata-se do resultado da união de esforços de três instituições: a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Planejamento e Orçamento (Assecor), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI.

O projeto Brasil 2035 tem como objetivo identificar elementos que subsidiem a formulação de estratégias de desenvolvimento para o Brasil. Para tanto, o projeto convida especialistas da academia, da sociedade civil e da administração pública a compartilhar suas visões sobre o futuro do país, identificando quais desafios e oportunidades podem nos afastar ou nos aproximar de cada um dos possíveis cenários.

Nesse projeto são consideradas quatro dimensões principais – social, econômica, territorial e político-institucional – e três temas transversais – ciência e tecnologia, meio ambiente e água. Além disso, têm sido aprofundados temas específicos, alguns com especialistas do Ipea (TIC e segurança pública) e outros contando com parceiros, tais como o BNDES (financiamento de longo prazo), Petrobras (energia), Previ (previdência), Embrapa (bioeconomia) e Unesp (segurança internacional).

O projeto teve seu lançamento em eventos de mobilização de parceiros, incluindo um Seminário sobre planejamento e cenários, realizado no BNDES no 1º trimestre deste ano, com apresentação do estudo de megatendências mundiais do Ipea e das experiências da Shell e do BNDES, além de oficina de troca de experiências no tema envolvendo mais de 20 instituições.

O BNDES também realizou oficina, coordenada pelo Departamento de Planejamento (DEPLAN), sobre financiamento de longo prazo, abrangendo os temas mercado de capitais, bancos e marco regulatório, seguros e garantias. A oficina contou com mais de 30 especialistas, de um conjunto de dez instituições e diversas áreas do BNDES, tendo como ponto de partida a apresentação de estudos do BNDES sobre o futuro da indústria financeira e do financiamento de longo prazo. Além disso, as unidades do BNDES responsáveis por cada um dos temas foram convidadas a participar, o que resultou no envolvimento de especialistas da casa em outras oficinas realizadas. Foram ainda promovidos dois seminários no Ipea, para a apresentação das justificativas das principais tendências e incertezas, por cada um dos parceiros, contando com a contribuição do BNDES para a fundamentação do tema de financiamento de longo prazo.

As próximas etapas do projeto envolverão: i) pesquisa web com especialistas; ii) análise de atores; iii) elaboração dos cenários; iv) definição de estratégias (imãs e apostas para o futuro); v) sinalização de questões para o monitoramento do ambiente; e vi) eventos de divulgação dos resultados.

Os estudos e resultados do projeto são disponibilizados na página do Ipea e, principalmente, na plataforma Brasil 2100 (www.brasil2100.com.br). Ao todo, o projeto conta com 25 instituições parceiras, incluindo, desde o seu lançamento, o BNDES e, a partir de julho, a AFBNDES. A última pesquisa web do projeto, já concluída, foi amplamente divulgada na página da plataforma Brasil 2100. Haverá uma nova pesquisa web no início de setembro. Fiquem atentos, é uma excelente oportunidade de participar dessa construção do Brasil de amanhã:

[...] o planejamento moderno não se propõe a adivinhar ou predizer o futuro, que é e sempre será desconhecido para nós; o planejamento visa, isto sim, à preparação para que se tente criar o futuro, com imaginação a partir das possibilidades que sejamos capazes de imaginar e descobrir [...] um bom plano é uma aposta estratégica, não uma aposta sobre o destino. (MATUS, 1996, p. 15, citado em Castro e Souza, 2015).

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Referências:
BUARQUE, S. Metodologia e técnicas de construção de cenários globais e regionais. TD, Ipea, Brasília, n. 939, fev. 2003. CASTRO, Lavinia e SOUZA, Francisco E.P.: "Cenários Mundo-Brasil 2030 – insumos para o planejamento estratégico do BNDES", Revista do BNDES, n. 44 Dez. 2015.

(*) Publicado na edição 1216, em 25/8/2016.

 
 
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