A privatização da Eletrobras, defendida pelo
presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro da
Economia, Paulo Guedes, está travada depois
que o Tribunal de Contas da União (TCU)
descobriu que o preço cobrado pelo governo
trará prejuízos bilionários ao país.
Pelas contas da Associação dos Engenheiros e
Técnicos do Sistema Eletrobras (Aesel) e da
Associação dos Empregados da Eletrobras (Aeel),
a empresa vale, no mínimo, R$ 400 bilhões e
o governo quer vendê-la por apenas R$ 67
bilhões. Ou seja, o prejuízo aos cofres
públicos será da ordem de, no mínimo, R$ 333
bilhões – destaca a Central única dos
Trabalhadores (CUT) em seu
site.
O diretor da Aesel, Ikaro Chavez, diz que o
valor da Eletrobras pode ser ainda maior.
“Os R$ 67 bilhões, calculados pelo
Ministério das Minas e Energia, são pelo
‘valor adicionado’, aquilo que o governo
avalia que a Eletrobras privatizada vai
ganhar a mais pelo direito de descotizar
usinas, e o ‘bônus de outorga’, aquilo que o
governo recebe à vista”.
Segundo ele, os R$ 67 bilhões seriam assim
divididos: R$ 34 bilhões iriam para a Conta
de Desenvolvimento Energético (CDE), um
fundo que serve para pagar subsídios; R$ 3
bilhões seriam para pagar dívida da União
com a Eletrobras; e R$ 8,7 bilhões iriam
para os fundos regionais como São Francisco,
Furnas etc. A soma desses valores, na ordem
de R$ 45,7 bilhões, seria paga em 30 anos.
Sobrariam R$ 21,3 bilhões, o chamado “bônus
de outorga”, que o governo receberia à
vista. Para Ikaro Chavez, o valor que o
governo receberia chega a no máximo R$ 25
bilhões, se forem levados em consideração
alguns reajustes nos valores.
Prejuízo bilionário –
Embora a Aesel e a Aeel calculem que o valor
da Eletrobras seja de R$ 400 bilhões, o
engenheiro Ikaro Chaves acredita que o preço
da estatal seja incalculável. Segundo ele,
só de valor adicionado a Eletrobras vale
pelo menos R$ 220 bilhões. O controle de
transmissão – R$ 50 bilhões – e a
participação minoritária da Eletrobras em
outras nas usinas e hidrelétricas podem
chegar a R$ 300 bilhões, somando R$ 570
bilhões.
O engenheiro explica que há usinas com
geração de energia subaproveitada, e com a
venda quem comprar vai investir aumentando a
capacidade e, consequentemente, vai ganhar
mais. “Eu acredito que o preço da Eletrobras
é incalculável por ser um setor estratégico
para o país e quem vai pagar é a população“,
afirma.
Greve –
Os trabalhadores do Sistema Eletrobras
realizaram em janeiro uma das greves mais
fortes dos últimos anos, com grande adesão.
Foram 22 dias de paralisação contra o
aumento abusivo e as mudanças no plano de
saúde e em defesa da manutenção da
Eletrobras pública. A categoria realizou
assembleias esta semana e deliberou pela
suspensão do movimento,
mas mantém o estado de greve.
Segundo o Coletivo Nacional dos
Eletricitários (CNE), este indicativo visa
respeitar a abertura de diálogo com o
ministro Alexandre Agras Belmon, do Tribunal
Superior do Trabalho (TST), relator das
ações do plano de saúde e do Acordo Coletivo
de Trabalho de 2020/2022.
O ministro orientou as partes a reabrirem a
negociação nestes próximos 30 dias para uma
possível mitigação do impacto do novo plano
de saúde aos trabalhadores. E, caso não haja
acordo nesse período, ele se comprometeu a
realizar uma audiência de conciliação no TST.
“O estado de greve significa que os
trabalhadores e as trabalhadoras vão
continuar mobilizados em defesa dos seus
direitos e pela luta em defesa de uma
Eletrobras pública, que vem sendo atacada
por esse governo que faz de tudo para vender
uma empresa estratégica para o país a preço
de banana, como aponta o relatório do TCU
que já se pronunciou sobre as
irregularidades até mesmo no valor previsto
para a sua venda”, destacam os
representantes dos trabalhadores. |