O plenário da Câmara
dos Deputados aprovou nesta quinta-feira
(5), por 286 votos favoráveis, 173
contrários e duas abstenções, o PL 591/2021,
que abre caminho para a privatização dos
Correios. A proposta quebra o monopólio da
estatal e abre a empresa pública para o
capital privado. Os parlamentares aprovaram
o
substitutivo
apresentado
pelo relator, deputado Gil Cutrim (Republicanos-MA).
O plenário rejeitou os destaques. O texto
segue para votação no Senado.
Deputados contrários
ao PL reforçaram que a estatal atende os
milhares de
municípios do país e dá lucro. Os
parlamentares também criticaram os projetos
de privatização em meio à pandemia. O líder
da Minoria, Marcelo Freixo (PSB-RJ),
adiantou que a Oposição recorrerá à Justiça
caso o texto seja aprovado no Senado.
O PL
591/2021,
proposto pelo Poder Executivo, foi aprovado
mesmo tendo sido considerado
inconstitucional
pelo procurador
Geral da República, Augusto Aras.
Segundo a
Contraf-CUT,
a iniciativa jogará nas mãos do mercado uma
empresa pública que não depende do governo
para sobreviver. Ao contrário, contribui com
recursos para o Tesouro Nacional, e ainda
pode deixar muitos municípios sem
atendimento, ou obrigar a população a pagar
valores absurdos para a manutenção dos
serviços postais. “Menosprezam os serviços
fundamentais prestados pelos Correios, que
vão muito além da entrega de cartas, como
tentam incutir na cabeça da população que o
Estado deve se abster de atender às
necessidades do povo brasileiro. Os Correios
também fazem a distribuição de medicamentos
e vacinas, remessas de valores e entrega de
produtos a um custo muito inferior do
cobrado pelas empresas privadas de entrega.
E, mais importante, em todos os municípios
do país, coisa que as empresas privadas não
fazem e se fizerem vão cobrar valores ainda
mais exorbitantes”, afirmou Juvandia
Moreira, presidente da Confederação.
A dirigente lembrou ainda que os Correios
cumprem seu papel social sem depender de
investimentos do governo. “Ninguém teria
interesse em comprá-lo se não fosse uma
atividade lucrativa. Os Correios contribuem
com dividendos para o Tesouro Nacional.
Dinheiro que é, ou deveria ser, utilizado
pelo governo para tocar políticas em
benefício da população. Dinheiro que, no
caso da privatização, irá para as mãos da
empresa que se tornar dona deste patrimônio
do povo”, destacou.
Reportagem publicada pelo UOL na
quarta-feira (4) mostra que os Correios são
lucrativos e, entre 2001 e 2020, repassaram
73% dos resultados positivos acumulados ao
seu único acionista, o governo federal. Dos
R$ 12,4 bilhões de resultado positivo
acumulados no período, R$ 9 bilhões foram
repassados ao governo (os valores foram
atualizados pelo IPCA).
Para o economista e professor da
Universidade Estadual de Campinas/SP, Marcio
Pochmann, vender empresas lucrativas para
fazer caixa é algo que só interessa a quem
está no poder. “O governo não tem um projeto
de país. Estamos vivendo o ‘presentismo’,
vendendo o almoço para comprar o jantar”,
disse ao UOL. Mas, mesmo que os Correios não
fossem lucrativos, Pochmann defende que o
Estado atue em áreas nas quais a iniciativa
privada é insuficiente para suprir a
necessidade da população.
O Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Socioeconômicos (Dieese) emitiu nota
técnica na
terça-feira (3) sobre o PL 591/2021 e a
privatização dos Correios. Na nota o Dieese
observa que “a estratégia de privatização da
ECT e liberalização ampla do mercado postal
não é uma ação governamental específica. Ela
faz parte de um projeto maior de enxugamento
do Estado e mercantilização de direitos, que
começou no Governo Temer e agora é
aprofundado”. A conclusão é a de que se
trata de um “péssimo negócio para o povo
brasileiro”.
A Federação Nacional dos Trabalhadores em
Empresas de Correios e Telégrafos (Fentect)
divulgou nota criticando a aprovação do PL
591/2021:
“Por 286 votos
a 173, a nossa empresa que tem 358 anos de
história, estratégica para o Brasil, é
entregue de mão beijada para atender aos
interesses e oportunismos do desgoverno
Bolsonaro e sua base no mercado. Mais um
triste capítulo dessa política entreguista,
de desmonte do Estado brasileiro e ataque
aos direitos do povo. A população mais
pobre, de municípios mais distantes, de
áreas remotas, ficará completamente
desassistida. O custo das encomendas vai
aumentar, recaindo sobre o bolso do
consumidor e do povo brasileiro”.
“Agora as
encomendas não chegarão a todos os lugares,
já que a palavra será lucro e não direito. A
privatização dos Correios representa um
forte ataque à soberania nacional, pois abre
caminho para que o mercado possa tomar conta
do serviço postal. A venda dos Correios é
mais um crime contra o país e o povo
brasileiro, que já padece em meio à pandemia
e às crises econômica, social e política. A
privatização vai gerar desemprego e
precarização do serviço postal”, destacou a
Federação dos Trabalhadores dos Correios. |