Tudo indica que nos
encaminhamos para uma
situação trágica no
Brasil. Uma crise sem
precedentes. Humanitária
e econômica ao mesmo
tempo. Segundo o
ministro da Economia da
Alemanha, para dar uma
referência, certamente a
crise atual será pior ou
igual à crise financeira
de 2008 em seu impacto
econômico.
As condições brasileiras
para enfrentar a crise
econômica foram todas
deterioradas. A começar
pelas duas principais
lideranças que
precisariam guiar o
país.
Na Presidência da
República temos um
senhor fanatizado, um
verdadeiro membro de
seita, seguidor cego de
um guru. O guru é o
obscurantista dos
obscurantistas. Um homem
insano que já perdeu por
completo o contato com a
realidade. As fantasias
e o lixo cultural que
difunde deveriam ser
objeto de chacota, mas,
no contexto em que
vivemos, seus disparates
soam mais assustadores
que engraçados. O
presidente e seus filhos
dão prova de que nada
conta – recomendações de
especialistas ou de seus
próprios ministros,
exemplos de outros
chefes de Estado, para
não falar de números e
estudos publicados
(porque todos nós
sabemos que isso nunca
importou para a família)
–, além das loucuras do
guru. Exemplos das
sandices: não há morte
pelo coronavírus
comprovada, os políticos
de direita que criticam
o presidente estão se
aliando ao partido
comunista chinês, e por
aí vai.
No
Ministério da Economia
temos um senhor que
esperou décadas para
mostrar para todos como
um liberal de verdade
deveria conduzir a
economia. Acabar com
bancos públicos, vender
todas as estatais,
política de austeridade
sem dó nem piedade. Não
apenas o resultado de um
ano de sua administração
guiada pelos dogmas da
velha escola de Chicago
revelou-se um fracasso
rotundo, ele foi pego no
meio de uma crise que
urge, que suplica por
uma medicina keynesiana
ousada.
Resultado: o ministro
desapareceu. No seu
lugar, ouvimos vozes
patéticas, de
subordinados claramente
despreparados, repetindo
fórmulas como: “as
reformas são a melhor
resposta à crise”;
“estamos divulgando
gradualmente as medidas
por que precisamos de
CAUTELA”.
Eles são a vanguarda do
atraso mesmo em grupos
sociais conservadores e
gananciosos como o
mercado financeiro. Não
surpreende que o
presidente da Câmara dos
Deputados, um claro
representante desses
interesses financeiros,
não consiga acompanhar
as sugestões dos
fanáticos do Ministério
da Economia.
Em
resumo, o que era
apresentado como ala
“ideológica” (ou
conservadora) do governo
e o que era considerado
como a ala liberal
revelam, nitidamente,
nessa crise, o que
realmente são e sempre
foram: duas facções de
dogmáticos, de
extremistas, de
fanáticos (leia a
respeito no editorial do
VÍNCULO: “O
Outro Guru”).
E o
BNDES nisso tudo?
Felizmente, o programa
do Ministério da
Economia de desmonte do
Banco não foi
completamente
implementado. E
provavelmente será
interrompido nesse
momento, mais por mérito
da inviabilidade
política no Congresso do
que pela genuína
percepção de sua
inadequação pelo
Ministério da Economia.
Tínhamos condições de
apresentar um plano que
se destacasse, que
mostrasse para a
sociedade brasileira a
importância do BNDES.
Mas não é isso o que os
chefes querem, não é
isso o que nossa
diretoria apresenta.
Não há por parte
dela qualquer grandeza,
não há qualquer dimensão
do momento histórico.
Fazem o feijão com arroz
que corresponde aos
sinais que recebem de
cima. Levaram duas
semanas para apresentar
duas medidas. O
importante, mais tímido,
refinanciamento (uma
suspensão por seis meses
do pagamento das
obrigações financeiras
dos tomadores do Banco)
e essa linha de capital
de giro. Direção
correta, verdade, mas
foi muito pouco e
demorou demais. Faz
parte da tragédia que
vivemos.
A submissão dos
subordinados às sandices
do número 1 da República
– uma única e parcial
exceção pode ser
encontrada nas caretas e
declarações do
vice-presidente Mourão –
mostra que ministros
foram bem escolhidos. No
BNDES há superintendente
aclamando o “mito” em
mensagens aos
funcionários,
demostrando que o mesmo
ocorreu por aqui.
As condições políticas
estão mudando
rapidamente e muita
gente é atropelada por
não perceber isso. Por
incrível que possa
parecer, há quem tenha
considerado importante a
presença e as
declarações positivas
sobre o Banco do
presidente Bolsonaro na
live do BNDES! Longe de
sinal de prestígio do
Banco, a presença do
presidente da República,
no atual momento, foi na
prática uma tentativa de
prestigiá-lo. É
compreensível que seus
seguidores mais fiéis
não se deem conta disso.
Entre eles o Mito
continua inabalável,
talvez mais admirado do
que nunca.
Deveria preocupar a
todos com compromisso
com o BNDES e com o país
que esses seguidores
estejam tão à vontade no
comando do Banco. Não é
um sinal alvissareiro de
que o BNDES chegará a
ocupar o papel que pode
e precisa para sairmos
da crise em que nos
encontramos. Não
ficaremos apenas
lamentando. O momento é
de ação. Faremos
esforços de apresentar o
que o BNDES pode e deve
fazer.
Aguardem.
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