Aventuras e desventuras no Ventura (Parte 1)

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Haroldo Cella

Funcionário do BNDES

Desde pequeno eu ouço minha mãe dizer que ninguém nem nada nessa vida é perfeito (a não ser Deus) e que, assim como cada dedo da mão é diferente um do outro, também as pessoas são diferentes entre si e o lado bom disso é que essas diferenças fazem com que tanto os dedos como as pessoas consigam fazer juntos o que não conseguiriam fazer sozinhos.

Essa reflexão me ajudou a aceitar de imediato a existência de imperfeições no novíssimo prédio de escritórios do BNDES no Rio de Janeiro, o Ventura, mas confesso que precisei de algumas semanas para enxergar o lado bom das diferenças entre esse novo prédio e o bom e velho Edserj.

Dizer que o Ventura tem imperfeições pode soar estranho, à primeira vista, pois afinal ele é, segundo dizem, um dos mais modernos, senão o mais moderno e inteligente prédio do Rio de Janeiro, mas pode-se dizer que, quem tiver a ventura de trabalhar nele, terá a oportunidade de viver, especialmente nos primeiros dias, algumas aventuras e desventuras em série (parece plágio de nome do filme, mas quem, como eu, já trabalha ali, entende o que estou dizendo).

Então, para quem for trabalhar no Ventura, vão aqui algumas dicas bem-humoradas, mas que os mais prevenidos podem, se quiser, levar a sério:

– ao chegar pela primeira vez no prédio novo, você perceberá que, para se movimentar dentro dele, é necessário um certo espírito de aventura; logo de cara, talvez você fique um pouco confuso com relação ao andar em que você está, pois parece que o prédio possui dois "térreos", sendo que, na verdade, o verdadeiro andar "0" (zero) é o que se tem acesso passando pelas portas giratórias no nível da calçada elevada da Av. Chile, enquanto o acesso para quem vem a pé ou de carro pela Av. Chile ou pela Av. Passos, corresponde ao subsolo 2 (andar "-2") do prédio (apesar de estar no nível da rua!); se ficar muito confuso, não se acanhe e peça ajuda aos seguranças (tem sempre um por perto);

– ao lado das portas giratórias, você encontrará algumas portas de vidro com puxadores/empurradores, mas não se espante se, ao tentar abri-las, constatar que elas estão trancadas (!); na verdade, é assim que a maioria delas fica, na maior parte do tempo, sem nenhum aviso, explicação ou sinalização; mas em certos (na verdade, incertos) horários algumas portas são mantidas abertas ou encostadas, mas destrancadas, sendo necessário usar o método de tentativa e erro para não ter que passar pelas portas giratórias, que, cá entre nós, além de arcaicas e inadequadas para serem usadas em caso de escape, são extremamente incômodas para quem vem com bolsas e pacotes e se vê obrigado a fazer uma verdadeira ginástica para entrar ou sair do prédio (será para compensar a ausência de ginástica laboral?); não custa avisar também que, para quem vem do G1, às vezes, são as portas giratórias desse lado do prédio que estão travadas e o jeito é ir tentando todas as portas de vidro até descobrir qual é aquela que está destrancada;

– se logo no primeiro dia você precisar fazer a passagem da "Torre Leste" para a "Torre Oeste" ou vice-versa, uma opção é descer para o térreo, passar pela catraca e entrar de novo; outra opção, que requer uma boa dose de espírito de aventura, é tentar fazer isso sem passar pelo térreo, mas não se apavore se em algum momento ficar perdido, pois sempre haverá um segurança para lhe orientar e, depois de repetir o caminho algumas vezes, você acabará ficando familiarizado com o labirinto de corredores que levam aos andares e locais onde devem ser feitas as baldeações de "ala baixa" para "ala alta" e a passagem propriamente dita de um prédio para o outro; não adianta procurar por uma sinalização que o oriente nesse sentido, pois esta simplesmente (ainda?) não existe.

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