O que
ele quis dizer?
"A
gente (Brasil) construiu
leis, normas, aparatos
legais e jurídicos que
tornaram legal esse
esquema de corrupção. A
conclusão é essa" (na
entrevista coletiva de
ontem em Brasília).
...................
Faltou contexto. É isso.
Vamos pegar a citação
toda, vai ficar mais
claro.
"Nosso Brasil viveu um
dos maiores escândalos
de corrupção da
história, turbinado com
dinheiro público. Esse
dinheiro saiu dos cofres
do povo brasileiro.
Então é legítimo que o
povo se pergunte e
questione: ‘mas como não
houve nada de ilegal?’.
E a verdade é que a
gente concluiu que não
houve nada de ilegal. A
gente construiu leis,
normas, apa-ratos legais
e jurídicos que tornaram
legal esse esquema de
corrupção. A conclusão é
essa. E é legítimo que a
população tenha essa
dúvida, e é importante
que o banco esclareça
que não fez nada de
ilegal".
...................
Depois disso, não é
apenas a "população" que
está com dúvida. Todo
mundo está com dúvida. O
que Montezano quis
dizer? As páginas do
VÍNCULO estão abertas
para o presidente
desenvolver seu
instigante raciocínio.
Essa ambiciosa digressão
sociológica, com
implicações legais,
talvez
históricas
também.
O
presidente estava
propondo ser aquele que
viria para "explicar".
Uma espécie de chosen
one. Depois das
declarações acima, temos
razão de acreditar que,
hoje, se há alguém
confuso sobre a história
da "caixa preta", essa
pessoa é o presidente.
Qual
é a base para esta
confusão? Possivelmente
o excesso de pressão e,
como não cansamos de
destacar, as premissas
incompatíveis que
Montezano tem que
atender: agradar a
"doidos" e aos fatos.
Montezano não gosta do
apoio bilionário à JBS.
Ele é contra. Tão contra
que acha que não precisa
colocar em discussão o
apoio. Ele propõe
aprender com os erros do
passado, mas não analisa
a política, seus acertos
e erros. Ele é contra e
ponto final. Não importa
se cresceu a exportação
de carne, se o BNDES
ganhou muito dinheiro
com as operações, se a
qualidade do abate no
Brasil melhorou, quanto
o BNDES (junto com o
mercado) aplicou e
quanto a empresa
cresceu. Não interessa
se faz ou não diferença
termos um setor de
proteína animal na mão
de nacionais ou de
estrangeiros. Trata-se
de um apoio errado
porque foi muito grande
e – com base no que
ele diz, podemos
acrescentar – porque a
JBS se revelou uma
empresa corrupta. Assim,
o apoio do BNDES à JBS é
qualificado,
paradoxalmente, como
corrupto, mesmo que não
haja evidência de
corrupção. Esse é o
conceito do "esquema de
corrupção legal" de
Montezano. Mau uso da
dialética.
Não
ocorre ao sr. Montezano
que talvez hoje, no seu
mandato, o BNDES pode
estar apoiando empresas
corruptas. O Banco apoia
milhares de empresas e
continua emprestando
montantes significativos
para elas. Se sua teoria
for correta, ele pode
estar se envolvendo em
inúmeros "esquemas de
corrupção legais", de
novo, segundo sua
própria definição.
Se um
banco financia uma
empresa com base em
critérios legais – ou
seja, sem se envolver em
atos de corrupção, e sem
o conhecimento de
práticas ilegais desta
mesma empresa –, seu
apoio não pode ser
considerado corrupto.
Também não pode ser
considerado que a
sociedade criou leis
corruptas para permitir
esse apoio. A auditoria,
o juiz, as comissões de
apuração interna, os
fatos apurados nas CPIs,
mostram que o apoio foi
feito com base em
critérios legais e
boa-fé. E também não há
indicação de que os
empregados do Banco
estivessem a par de
ilegalidades cometidas
pela JBS.
E
isso vale para todos que
se relacionam com uma
empresa corrupta, não
apenas os seus
financiadores. Seus
empregados não são
corruptos, seus
fornecedores não são
corruptos etc. – de
novo, para ser didático,
desde que tenham se
envolvido com a empresa
com base em critérios
legais e não tenham
feito parte, ou
estivessem conscientes,
dos esquemas de
corrupção da mesma.
Como
poderia fica mais claro
o discurso do sr.
Montezano? Ficaria mais
claro se ele admitisse
que existem duas
discussões diferentes. A
primeira: há ou não
"caixa-preta" (falta de
transparência ou esquema
de corrupção) no BNDES?
A segunda: qual foi o
balanço das políticas de
apoio à exportação de
serviços de engenharia e
de apoio a empresas
nacionais por meio de
participações. Ele
deveria responder sem
rodeios sobre a primeira
questão: minha gestão
concluiu que não há
"caixa-preta" no BNDES.
Sobre a segunda questão:
eu não gosto das
políticas, mas nunca as
submeti a qualquer
discussão com os
técnicos do Banco.
Fazemos um apelo: Por
favor, e mesmo em
benefício da
inteligibilidade do seu
discurso, pare de
confundir as duas
coisas. Pare de chamar
de corrupta a política
que você não gosta.
O
triste é que até aquela
declaração a
apresentação estava
muito boa. Parecia que
Montezano iria realmente
acabar com a crise que
ele mesmo gerou com a
combinação de falas
desastrosas e
inexplicável silêncio
por 10 dias.
Fizemos as contas. O
BNDES vendeu em janeiro
as ações do Banco do
Brasil de posse da União
que estava encarregado
de vender. Foram
vendidas em mesa, como
os técnicos do Banco
achavam que era a forma
mais correta.
Valor
apurado com a venda
graças à coragem da
ex-superintendente
Luciana Tito e dos
empregados que se
mobilizaram no térreo do
Banco em outubro de
2019: R$ 1,06 bilhão.
Valor
que seria apurado se o
Banco tivesse se curvado
às pretensões do
ex-diretor André Laloni
e dos assessores e
executivos que o
apoiaram e ainda pilotam
a área de mercado de
capitais: R$ 0,960
bilhão (assumindo um
preço médio por ação de
R$ 43,46, apurado na
oferta pública que
ocorreu em outubro com
outras ações do Banco do
Brasil e descontada a
comissão dos bancos).
Diferença entre os
valores? MAIS R$ 160
milhões (considerando
também aqui os
dividendos pagos pelas
ações entre outubro/2019
e janeiro/2020).
Estamos falando aqui de
mais de três vezes o
valor da polêmica
consultoria externa
(R$48 milhões). Estamos
falando de uma diferença
de 18%.
Se um
erro dessa ordem for
cometido na venda das
ações de toda a carteira
da BNDESPar, estaríamos
falando em desvios na
casa dos R$ 20 bilhões
dos cofres públicos para
o bolso do setor
privado.
Deixem os técnicos do
BNDES trabalhar em paz.
Sem usurpação de suas
funções por diretores.
Sem assessores que agem
como diretores ou
superintendentes.
E
mais, é preciso
transparência JÁ sobre a
estratégia para a
BNDESPar. Qual é a
política de
reinvestimento? Quando
haverá a prometida
apresentação para o
corpo funcional?
Somos
todos ouvidos.