O mandato do sr.
Gustavo Montezano
representa
interven-ção mal
disfarçada do
Ministério da
Economia no BNDES. O
único propósito real
da atual
administração é
vender as
participações
acionárias da
BNDESPar e devolver
os aportes do
Tesouro no BNDES. O
resto é pouco mais
que uma fachada.
Claro que, de certa
forma, nada foi
escondido de
ninguém. Das cinco
metas de Montezano,
as três primeiras
são sobre atender
Brasília, atender as
demandas que fizeram
com que Joaquim Levy
fosse chutado do
Banco.
A busca da
"caixa-preta
perdida" tem a
função de alimentar
o discurso eleitoral
do presidente da
República, hoje e no
futuro próximo.
Vender, devolver e
atender à demanda do
ministro da Economia
– ao mesmo tempo
fundamentalista-liberal
e amiga do mercado
financeiro. Ninguém
pode dizer que é
totalmente não
transparente. É
claro que também não
é transparente
porque oficialmente
não se admite que
esses são os
objetivos. Somos
obrigados a escutar
com cara de
interessados toda a
conversa fiada
acerca do "bndes
aberto", do fim do
sigilo bancário, dos
riscos da carteira
da BNDESPar, de
posições
especulativas da
carteira, de que
temos Petrobras
demais e saneamento
de menos etc. etc.
etc.
A realidade é que a
venda das ações – ou
o desinvestimento –
vem sendo planejada
sem qualquer plano
de reinvestimento. O
discurso de que o
Banco tem muito de
Petrobras e que
precisa ter mais
saneamento,
implicando, em
decorrência, que
devemos vender
Petrobras para
investir em
saneamento, é pura
retórica para
convencer –
desculpem a
sinceridade –
trouxas. Não há
sombra de dúvida que
é nulo o respeito de
quem pilota tais
mudanças pelos que
compram o discurso
oficial. Vende-se
Petrobras e se
venderá toda a
carteira da BNDESPar
por que o ex-chefe
do nosso chefe falou
que não precisamos
de BNDESPar e tem um
monte de gente no
mercado fazendo as
contas de quanto
ganharão com esta
brincadeira. Temos
os toscos e os que
procuram disfarçar a
falta de
refinamento. Os
toscos contam com a
vantagem
significativa, num
tempo de difusão
propositada de
mentiras, de
oferecerem a
mer-cadoria mais
escassa: os
verdadeiros
propósitos.
Com a saída do mais
experiente
superintendente da
Casa, vemos que a
atual diretoria se
sente encorajada com
a experiência da
BNDESPar e que
quando se trata de
cumprir a agenda de
Brasília, "si hay
reglas, soy contra".
O espaço que o
ex-presidente Levy
acreditava que
existia de tocar a
agenda dentro das
regras e das
recomendações
técnicas, não existe
mesmo.
Se temos a gestão
dos sonhos de Paulo
Guedes no BNDES, o
que o ministro fala
sobre o futuro do
Banco? Privatização,
concessões e
saneamento. O maior
desembolso da série
histórica do Banco
para o saneamento
foi de menos de R$ 9
bi. As outras
agendas têm zero
desembolso imediato
e no futuro próximo.
Façam as contas
sobre quantos
empregos teremos no
Banco antes de
reclamar que a
AFBNDES fala muito
de "política".
A propósito, o ideal
de um BNDES
"apolítico", como
preconiza o
presidente Montezano,
vai na direção
contrária ao que
muitos concluíram
quando viram o
isolamento político
do Banco em Brasília
na experiência dos
últimos anos.
Engraçado que esse
BNDES "apolítico" é
o mesmo que se
presta, de forma
inédita, a fornecer
material de campanha
eleitoral explícita
e mentirosa (Vide o
caso dos jatinhos.
Um aviso aos que
discordam: só os
mais incautos podem
negar isto. Toda a
imprensa – não
incluímos o
"Antagonista" quando
usamos este termo,
por conta do manual
de redação do
VÍNCULO – sabe do
que se tratou).
É também este o
mesmo BNDES que,
precisando da defesa
de recursos
constitucionais
postos em risco no
Congresso, opta por
lavar as mãos (para
quem fica tenso, não
esqueça que podemos
contar com o
dinheiro daquele
povo rico que se
preocupa com a
"base", uma vez que
não quer ter seus
carros
queimados...).
A AFBNDES é
abertamente política
e, ao mesmo tempo,
mortalmente
adversária de
qualquer
partidarismo ou
aparelhamento. É
natural e correto
que se rejeite o
partidarismo de
organizações
sociais. É estúpido
deixar que usem isso
para impedir a
atuação política de
qualquer organização
social. Tomamos
posição sobre o
BNDES, sobre sua
importância para o
país, e vamos
disputar isso com
interpretações
adversárias, na
opinião pública, no
Parlamento, na
Justiça, nos órgãos
reguladores, e por
aí vai. Fazemos isso
da forma mais
transparente
possível em artigos,
notas públicas,
editoriais. Sempre
abrindo espaço para
a divergência.
Note-se que não há
nenhuma oposição
necessária entre
essa acepção de
política e o
compromisso com a
"técnica", ou seja,
com argumentos
pautados por
evidência, com
conhecimento de
causa e que busquem
a verdade. Nós
advogamos justamente
uma política
tecnicamente
fundamentada.
Nossos adversários
fazem isso com
intensidade muito
maior. Estavam TODOS
nas votações e
audiências da MP
777, estão no
aconselhamento de
deputados e
senadores em cada
Proposta de Emenda
Constitucional e em
cada Medida
Provisória que
contou e conta com
um jabuti pendurado
pelo Ministério da
Economia para acabar
com o BNDES ou
reduzir
drasticamente sua
atuação. Escrevem
contra o Banco em
todos os veículos
disponíveis. E
continuarão a fazer
isso. A única razão
para a batalha não
estar perdida é que
eles têm um
probleminha bem
constrangedor:
mentem
sistematicamente,
despudoradamente. E
mentira tem perna
curta.
É claro que ficar
fora da disputa, não
responder às
mentiras de gente
influente quando as
informações estão
disponíveis,
significa concordar
com a perpetuação de
inverdades e com a
destruição da
reputação de pessoas
e instituições. Como
pode-se ver,
defender um BNDES
"apolítico" é bem
coerente com o
mandato de desmonte
do Banco.