É egoísta? Sim. Tem
feito bem à imagem
do país? Nem um
pouco. Mas se você
tem um pouco de bom
humor e trabalha no
BNDES, vai nos
perdoar. Enquanto
reina a sanha "tuiteira",
tivemos alguma
trégua nas manchetes
de jornal, televisão
e redes sociais em
relação ao BNDES.
Até quando?
Não foram apenas os
tweets aloprados do
presidente da
República (incluindo
vídeo pornô e
ataques a
jornalistas) – sobre
quem matou Marielle,
a vitória da
Mangueira, "olavetes"
versus
militares no
Ministério da
Educação, "olavetes"
versus
Itamaraty e
militares no
Itamaraty, crise na
Venezuela... Essas
publicações ajudaram
a nos deixar um
pouquinho fora do
foco. Na verdade,
deixaram a agenda
econômica fora de
foco, o que na visão
de muitos é o mais
grave. Afinal, não
deveria a Reforma da
Previdência, a esta
altura, ser o
principal filme em
cartaz?
Do nosso ponto de
vista, um pouquinho
mesquinho talvez, o
lado bom é que
tivemos um certo
alívio nas
manchetes. Mas nos
bastidores
continuaram tramando
contra a gente. Um
exemplo grave. A
proposta de Reforma
da Previdência traz
um contrabando para
espetar o BNDES: a
redução dos repasses
do PIS/PASEP de 40%
para 28%. Os que
defendem ou acham
que não é grave,
entendem que 28% é o
que já recebemos
depois da aplicação
da DRU. A proposta é
reduzir para 28% os
repasses e acabar
com a DRU. A verdade
é que mesmo que não
haja um impacto
imediato, a proposta
é ruim, pois
enfraquece o Banco
estruturalmente,
além de reduzir um
parâmetro previsto
na Constituição.
Quem garante que não
virão novas reduções
no futuro via novas
DRUs? E, mais grave,
continua
prevalecendo a
percepção de que o
BNDES é um fardo
fiscal, quando isso
não é verdade (eles
falam dos custos dos
subsídios sem levar
em conta as receitas
fiscais que a
atuação do BNDES
gera). O país
precisa de
investimento para
sair da crise, e o
BNDES é a
instituição pública
mais diretamente
vinculada ao
estímulo ao
investimento. O
BNDES é parte da
solução, não do
problema. Da
Constituição de 1988
para cá, o país
ficou relativamente
mais para trás.
Muito mais. Se
precisávamos de 40%
no BNDES naquela
época, deveríamos
estar falando em
aumentar essa
percentagem, não em
reduzi-la.
Mas se o país ficou
para trás nos
últimos 30 anos, não
é um sinal de que
esses repasses não
fizeram tanta
diferença?
Exercícios
contrafactuais são
difíceis, mas nesse
caso é clara a
resposta.
Descartando as
fantasias liberais
de ineficácia da
política monetária
(tese que ainda vai
cair no ridículo; a
conversão de André
Lara Resende é
apenas um prenúncio
– aliás, a convite
da AFBNDES, o
economista virá ao
Banco em abril para
falar sobre "a crise
da macroeconomia"),
está claro que o
BNDES proporcionou o
incentivo econômico
que ajudou a segurar
as pontas. E não
estamos falando de
segurar as ponta das
"elites" como sugere
o presidente Levy,
numa resposta
infeliz ao jornal
Valor, mas segurando
as pontas do setor
produtivo
brasileiro. Num país
com taxas de juros
absurdas, câmbio
valorizado e/ou
volátil,
investimento público
deprimido,
infraestrutura
precária, quais são
os incentivos para
produzir e expandir
a produção? Quais
são os incentivos
para criar novos
setores? Para atrair
investimentos
PRODUTIVOS externos?
A resposta dos
últimos 30 anos: a
taxa de juros
(subsidiada,
diferenciada,
promocional, o
leitor escolhe o
termo) do BNDES.
O que eles querem
nos fazer acreditar
é absurdo. É sugerir
que talvez esta taxa
tenha sido a razão
de todos os
problemas. O
contrafactual
liberal é
constrangedor no seu
desafio do bom
senso. Haja
econometria e
equilíbrio geral na
veia para acreditar
nisso.
Infelizmente,
acreditamos que a
trégua relativa não
vai durar. No
horizonte, vários
problemas. Anuncia,
por exemplo, o
jornalista Lauro
Jardim que o
Ministério Público
deverá nessa ou na
próxima semana
apresentar a
denúncia da Operação
Bullish. No pequeno
intervalo entre os
tweets carnavalescos
e os contra
jornalistas, o
presidente da
República tentou
retomar a acusação
de "caixa-preta" no
BNDES; foi aprovada
nova CPI sobre o
Banco no Congresso
Nacional; e,
finalmente, alguns
sinais da atual
administração
indicam que a
centralidade do
BNDES como
financiador da
infraestrutura pode
estar em xeque.
De fato, é incrível
notar a centralidade
que o BNDES ganhou,
particularmente, no
imaginário
conservador e
liberal. Se nas
últimas semanas
esses setores dentro
do governo, na
imprensa e nas redes
sociais estão se
digladiando,
chegando a
praticamente
dispensar a oposição
de seu papel de
antagonista, sabemos
que estarão de mãos
dadas, em breve, no
ataque ao BNDES.
Então, rapaziada,
aproveita enquanto
der esse nosso
"carnaval"
estendido.
Continuamos atentos
às manobras de
bastidores, mas
ficar fora das
manchetes já é
alguma coisa. Mais
tweets, por favor.