Com o incêndio ocorrido no último mês no Museu Nacional, o país voltou seu olhar para a "tragédia anunciada" que é a situação das instituições de cultura e ensino no Brasil.
Em face a um evento tão emblemático, muito tem se falado sobre o descaso que ameaça nosso patrimônio histórico, cultural e científico, mas pouco tem sido feito, efetivamente, para a mudança do quadro geral crítico que assola as instituições depositárias e gestoras desses patrimônios há tempos. Prova disso é o fato de que o tema não é contemplado com uma linha sequer em vários programas de governo dos candidatos elegíveis para o cargo de Presidente da República.
Nos últimos anos percebeu-se um movimento de restrição de atuação e encerramento de atividades de diversas unidades de informação, inclusive em instituições que têm como seu foco inovação e pesquisa, como a Finep.
Em tempos de recursos escassos, priorizam-se resultados imediatos e produtos palpáveis, esquecendo-se da importância das atividades meio, do imaterial, da informação de qualidade, da preservação do conhecimento produzido e da memória institucional e nacional para a formação e o desenvolvimento do país.
Ao contrário do que parece ser o mote dos últimos 20 anos, nem tudo está disponível e pode ser encontrado no Google e, nesse cenário, as bibliotecas, museus e arquivos exercem papel imprescindível no tratamento, armazenamento e disseminação da informação.
As bibliotecas desempenham atuações e funções diversas, a depender de seu caráter. O papel da Biblioteca Nacional, que tem sua sede na Av. Rio Branco 219, por exemplo, é a captação, guarda, preservação e difusão da produção intelectual do país, sendo a receptora e beneficiária do depósito legal, que garante que toda publicação produzida em território nacional tenha um exemplar depositado na instituição de maneira a assegurar a formação da Coleção Memória Nacional.
Já uma biblioteca especializada, como a Biblioteca Paulo Roberto de Sousa Melo, do Centro de Pesquisa de Informações e Dados (COPED), por sua vez, possui a finalidade de dar suporte às atividades desempenhadas pelos funcionários – fornecendo material que subsidie a tomada de decisão –, manter e desenvolver acervo com material atualizado e pertinente aos temas de interesse institucional, contratar bases de dados, captar, tratar, preservar e disseminar o conhecimento produzido no âmbito do Sistema BNDES e por seu corpo funcional, mesmo que externamente, propiciar espaço para estudo e socialização, elaborar pesquisas sob demanda, promover eventos, orientar usuários no uso de ferramentas de pesquisa e preservar a memória institucional.
Cabe ressaltar que, nesse sentido, são mantidos e tratados pela biblioteca documentos únicos que remontam à criação do Banco em 1952, passando por obras sobre os fundos e programas desenvolvidos na instituição, estudos elaborados pelos técnicos e diversos outros materiais que fazem parte da memória da Casa e não podem ser localizados em nenhuma outra fonte, o que faz desta unidade de informação uma detentora e mantenedora da memória institucional e do próprio desenvolvimento brasileiro.
Devido a sua ampla atuação, a biblioteca, que atende, presencial e remotamente, tanto a funcionários do BNDES quanto a visitantes, se relaciona com mais de 40 outras instituições de informação no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, de maneira a auxiliar mais eficiente e eficazmente seus usuários.
Algumas das atividades realizadas pela unidade são: empréstimos de publicações, tanto do acervo próprio quanto do acervo de outras bibliotecas com as quais mantém convênio, pesquisas e clippings de temas, setores e empresas, podendo-se citar, como exemplos, a pesquisa realizada sob demanda da Área de Fomento e Originação sobre todas as feiras que acontecem no Brasil, para subsidiar as iniciativas de fomento e originação, levantamento bibliográfico sobre assuntos de interesse dos empregados, para atualização do conhecimento e aplicação nos processos de trabalho, pesquisa de artigos, treinamentos, sumários correntes, com notificações sobre lançamentos de revistas de diversos setores, organização de materiais de Grupos de Trabalho – GTs e de iniciativas institucionais, compra/assinatura e gestão de contratos dos recursos de informação, manutenção do Portal de Informação e conhecimento na intranet para explicitação dos serviços executados, e gestão da Biblioteca Digital do BNDES, que apresenta uma média mensal de cento e quarenta mil downloads e um total de mais de 3,5 milhões de downloads das publicações produzidas, patrocinadas, contratadas ou que discorram sobre o BNDES, desde seu lançamento em 2014.
A biblioteca é um organismo vivo e pertence a cada funcionário do BNDES e à sociedade como um todo – por se situar em uma empresa pública – e, portanto, se constrói e se desenvolve por meio da cooperação e integração entre todas as partes, devendo contar tanto com o apoio interno de usuários assíduos, que encaminham suas publicações para o acervo, solicitam assessoria nas pesquisas e realização de levantamentos bibliográficos e inserem o COPED em projetos e iniciativas do Banco, quanto com a parceria de outras instituições.
Em tempos de descaso para com a memória, cultura e educação, a Biblioteca do BNDES se mantém como órgão que resiste às intempéries e busca exercer seu papel no desenvolvimento econômico e social do Brasil, pois entende-se que estes passam pela democratização da informação e do conhecimento e que não se faz desenvolvimento sem informação.