A saída do professor Luciano Coutinho, que ficou na Presidência do BNDES por 10 anos, deixou a clara necessidade de trazer à tona debates sobre a identidade de nosso Banco. Não que a identidade estivesse totalmente clara durante sua gestão, mas havia um nível de estabilidade institucional que facilitava a implementação de ideias. Além disso, por questões de naturezas diversas, nosso trabalho era bem menos questionado.
Outro ponto que reforça a emersão do debate sobre identidade, mas que antes não estava tão latente, foi a transição geracional que ocorreu de 2007 a 2011. Para nós, esse é um aspecto relativamente óbvio, justamente por fazermos parte desse grupo de empregados. Grupo este que ainda não havia passado por um momento de alternância tão frequente na alta administração do Banco (tivemos 4 presidentes nos últimos 2 anos) e que, até então, havia vivenciado apenas um cenário de expansão da atuação da instituição.
Talvez esse problema tenha sido agravado pela nossa ingenuidade em relação à importância da memória benedense
No referido artigo são apresentadas sete imagens que oferecem uma referência para o reconhecimento das diferentes maneiras que os indivíduos respondem ao contexto organizacional no qual estão inseridos. Em outras palavras, as ideias presentes no artigo podem nos ajudar a entender por que nós, benedenses, percebemos os acontecimentos dos fatos sob perspectivas diferentes.
Assim, a ideia seria compartilhar o estudo e convidar a todos para uma reflexão sobre a identidade benedense. Isso tudo por que as sete óticas que analisaremos a seguir, à luz do contexto do BNDES, poderiam nos ajudar a entender um pouco mais de nós mesmos e de nossa identidade coletiva. Por isso, pedimos licença para extrapolar tal estudo e inserir cada uma das sete perspectivas em nosso contexto:
• Questionadores (self-doubters): se preocupam com o alto nível de incerteza e são movidos pelas suas inseguranças. Estes benedenses são capazes de identificar problemas estruturais e apresentam um olhar crítico e consciente sobre os problemas e desafios do Banco. Contudo, podem cair na armadilha de ficar paralisados frente a tantos desafios.
• Guerreiros (strugglers): se preocupam com as contradições e conflitos necessários para atender seus objetivos e às exigências externas. Estes benedenses têm foco nas dificuldades locais e nos problemas cotidianos. Eles também se incomodam com as incoerências que suas tarefas representam e se esforçam para que essa dualidade não atrapalhe sua trajetória profissional.
• Surfistas (surfers): se preocupam com a fluidez e a adaptação frente à complexidade, com visão fragmentada e multiplicidade de discursos. Estes benedenses se moldam de acordo com o contexto. São realistas e pragmáticos. Contudo, podem apresentar alguma dificuldade em ter uma visão mais crítica e de longo prazo.
• Contadores de histórias (storytellers): se preocupam com a criação de significado através de narrativas que explicam o seu papel como indivíduo dentro da organização. Normalmente, possuem um adequado grau de consciência sobre o contexto. Desde que seu papel faça sentido, se sentem confortáveis ao longo de sua trajetória. Têm uma preocupação com análises longitudinais e com a construção de uma narrativa lógica. Contudo, muitas vezes podem ter dificuldade de engajar outros indivíduos a empregar suas visões.
• Estrategistas (strategists): se preocupam com a construção de uma identidade funcional por meio de uma percepção que conjuga autenticidade e adaptação profissional. Com alta capacidade de síntese, tendem a conseguir aderência às suas ideias e às suas visões sobre a organização. O problema deste perfil é que, às vezes, podem se descolar do curto prazo e tendem a subestimar as pressões momentâneas.
• Replicadores (stencils): se preocupam com as estruturas de poder e de governança, buscando entender como elas moldam a sua identidade. Respeitam a hierarquia e sabem seu papel dentro da estrutura formal de poder. Os benedenses replicadores reproduzem o discurso dominante e têm uma tendência a se conformar com ele.
• Soldados (soldiers): se preocupam em atender as expectativas dos grupos nos quais estão inseridos. São leais aos grupos e são mais aderentes ao contexto social do que às estruturas formais de poder. Eles são contagiados pelo senso de pertencimento e são sensíveis às questões que afetam os membros de seu grupo.
Sobre a nossa perspectiva, estes arquétipos são interessantes, pois ressaltam justamente as nossas diferenças. Mesmo que as metáforas não sejam ideais, o estudo aponta diferentes assimetrias de personalidade e variadas formas de enxergar e de se inserir no contexto.
A ideia de compartilhar o estudo foi facilitar o diálogo por meio do convite à autorreflexão sobre essas diferentes identidades e perspectivas. Assim, talvez, seja possível sermos mais empáticos e propositivos, sem perder o pensamento crítico que a complexidade de nossa organização requer.
Naturalmente, o exercício proposto é uma extrapolação ao estudo apresentado, mas entendemos que a provocação é válida.
Acreditamos que para buscarmos uma identidade organizacional precisamos reconhecer nossas diferenças e resgatar um propósito comum, reforçando nosso espírito de comunidade.