Quatro da tarde,
oitavo andar do
Ventura. Um sup, um
diretor, um chefe,
uma gerente,
presidente e vice da
Associação, uns
gatos pingados de
plateia. Pouca
gente. Um pouco mais
do que nos eventos
anteriores da AF,
mas pouca gente.
O debate, sobre o
Planejamento
Estratégico do
Banco. Que, embora
tenha tido
streaming,
parece que não foi
gravado. O que é uma
pena. Não que ele
tenha apresentado
algo em si novo (até
que teve, mas isso
fica pra depois),
mas o ineditismo de
vermos o diretor sob
a qual está a AP
sentado publicamente
com a Associação,
discutindo coisas
que afetam a atuação
do Banco... bem,
isso aconteceu com
TLP sob Maria
Silvia. Mas embora
também fosse Ricardo
falando pelo Banco,
não foi como diretor
de planejamento (e
nessas horas
agradeçamos o fim da
fase dos
skinheads sobre
a Área).
Mas não escrevo aqui
uma ata do evento.
Tentando me conter
nos sete mil toques
que o Washington me
pede, vou tentar
falar do que, em
termos gerais, me
incomoda nesse
processo (de
planejamento). Com a
eliminação da
Espanha e da
Alemanha, acho que o
mar não está pra
floreios e toques
excessivos.
Ponto principal: o
processo foi feito
tendo um
interlocutor
principal, um
cidadão extremamente
culto e peculiar
que, a acreditar-se
na última pesquisa
do IBOPE, sequer
teria 1% das
preferências dos
eleitores. Aliás,
ele e o ex-ministro
Meirelles. Aliás,
ele, Meirelles e
Rodrigo Maia.
Traços. Tocado a
toque de caixa pela
consultoria antes
mesmo de Sebo nas
Canelas™, o processo
escutou muito poucas
pessoas fora do
universo imediato do
Banco (clientes,
economistas,
burocratas, nós
mesmos).
E desse processo sai
uma conclusão TINA (There
Is No Alternative),
com cenários bom,
moderado e ruim. E a
partir daí se toma
uma dúzia de
iniciativas... bem,
não vou discutir as
conclusões e
iniciativas aqui.
Fica pra outras
ocasiões.
Mas o fato concreto
é que não temos
cenário bom,
moderado ou ruim
pela frente. Temos
um cenário Ciro. E
um cenário Jair. E
um cenário Marina. E
um cenário Geraldo.
E um cenário seja lá
quem for que o
Judiciário na
condição de
Rahbar
permita concorrer em
nome de Lula. E até
um cenário Henrique:
afinal, o mercado
financeiro e seus
avançados processos
de processamento
já anteviram
que a Alemanha
ganhará a Copa do
Mundo de 2018. Cada
candidatura dessas –
candidaturas de fato
que são conhecidas,
que basicamente são
as mesmas que vêm
sendo medidas por
institutos de
opinião pública
desde que Maria
Sílvia ainda nos
presidia – produz
discursos,
representa demandas
e segmentos da
população, apresenta
plataformas que
provavelmente não
estão em papel.
Jair,
num pequeno
fragmento de youtube,
dizendo para um
grupo de estudantes:
"Temos que
privatizar muita
coisa, extinguir
estatais, mas com
dados técnicos do
BNDES para você não
falar besteira" me
parece um exemplo de
materiais dispersos
sobre os quais, com
um esforço criativo,
poderia se construir
caminhos conforme
esses diferentes
mindsets. Melhor
do que ensinarmos a
eles nossa muito bem
construída
conclusão.
Mas é exatamente
isto que estaremos
fazendo levando
nosso planejamento
estratégico já
consumado para os
economistas ligados
neste momento
(frise-se, neste
momento) às
candidaturas. Por
melhor que seja
nosso trabalho, é
uma atitude
arrogante. E uma
atitude
possivelmente
infrutífera, pois é
grande a chance que
não sejam essas
pessoas que irão
tocar a política
econômica do governo
ou, dentro dela, os
aspectos que tocam
ao BNDES.
A eleição que se
aproxima sugere uma
troca de guarda, uma
significativa
mudança no conjunto
de pessoas que
estará conduzido o
governo. Isto
aconteceu de forma
significativa entre
Sarney e Collor,
entre Fernando
Henrique e Lula; e,
de forma bem mais
moderada, entre
Dilma e Temer. Se
você acredita que as
heurísticas do
passado carregam
alguma informação
sobre as do futuro,
então constate que
muitas das
iniciativas
visionárias, muito
do que é a aplicação
de modas
administrativas da
época sucumbe à
mudança de governo.
Um exemplo disso foi
a Universidade
BNDES, criada em
2002 e extinta ao
final de 2003.
Fashion na
época, pouco se
propõe hoje
universidades
corporativas.
Muito das
iniciativas de hoje
é cópia apressada do
que julgo ser má
interpretação do
sucesso alcançado em
outros lugares do
planeta, em outras
instituições, em
outros contextos. E
isto está fadado ao
esquecimento, a
aparecer na primeira
página de busca de
google como termo em
um
obscuro relatório do
TCU.
Mas há parte do que
acontece junto a
esse tipo de
processo de
autoglorificação e
de adoção de
práticas e
palavreados da moda
que, por muitas
vezes, antecede a
ele. A agenda de
aceleração dos
processos
automáticos e de
implementação de um
modelo digital de
operações diretas
com funcionalidade
semelhante ao das
automáticas é um
caso desses: um
conjunto de
ações/intenções que
pode ter sido
incorporado a esse
planejamento, mas
tem vida própria
anterior.
Ricardo, patrono
dessa agenda, por
mais que ache que as
conclusões do
planejamento
estratégico são
basicamente as
mesmas de sempre
(sempre, no caso, os
quase 26 anos em que
ele está cá), afirma
que muitas mudanças
virão, muita coisa
acontecerá nesses
seis meses. Se a
parte dessa agenda
pela qual ele já
trabalhava na época
dos skinheads
vier a frutificar e
se mantiver no
próximo governo,
olé!
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