Somos todos verdes, mas são muitos os tons!
 

André Nicolay
Ouvidor eleito da AFBNDES
 
Um trabalho que realizei anos atrás, era responsável por abrir e demarcar trilhas turísticas, plantava muitas orquídeas e bromélias ao longo desses caminhos, sempre observando o ambiente e buscando o melhor local para que as plantas prosperassem, tornando o caminho mais aprazível. Foi nessa época que percebi uma variedade enorme de verdes na natureza, cada planta tem sua textura, sua cor específica, seu brilho diferenciado, foi uma explosão de verdes aos meus olhos urbanos acostumados a achar que era tudo simplesmente verde.

Conversando com algumas pessoas na época, aprendi que existem ao menos 16 tons de verde, talvez muito mais, vai depender dos olhos do observador. Pois bem, de certa forma essa história se repetiu aqui no BNDES, quando entrei em 2006. Ingenuamente imaginei que fôssemos todos verdes, todos iguais, mas com o tempo fui aprendendo que não é bem assim. Num belo dia, já em 2010, um colega me falou: "Aqui no Banco somos todos verdes, porém uns são mais verdes do que os outros". Essa frase ficou na minha cabeça e agora voltou a martelar de forma violenta e persistente. Afinal, que espécie de verde sou eu? Um verde opaco, sem viço, sem charme, quase sem fotossíntese, sou o esquecido verde Nível Médio. Mas, afinal, por que falar disso agora, nesse momento delicado? Porque somos um corpo funcional cada vez mais dividido, com inúmeras nuances, temos o abandonado grupamento C (esse deixou de ser verde?), temos PUC’s NM, PUC’s NU, PEC’S NU c/ cargo, PEC’s NU sem cargo, PEC’S NU com cargo porta-joias, PEC’S NU sem cargo porta-joias, PEC’s NM sem cargo, PEC’s NM com cargo, PEC’S NM sem cargo porta-joias, PEC’S NM com cargo porta-joias, temos incorporados, semi-incorporados e os que talvez nunca venham a incorporar, uma verdadeira pantomima. Feita essa fotografia policromática, surgem algumas reflexões: A quem isso interessa? É razoável que uma empresa séria (seja ela privada ou estatal) tenha um corpo funcional assim tão dividido? Isso é bom para a produtividade? Motiva as pessoas? Fortalece a cultura organizacional? E aquela palavrinha mágica – isonomia – saiu do dicionário? São muitas as reflexões.

Nesse momento de mudanças extremas é importante que fique registrado que por iniciativa do corpo funcional, em parceria com a então ARH – Área de Recursos Humanos do Banco, enormes esforços foram feitos no sentido de equacionar essas diferenças, quase quatro anos entre estudos, preparação, elaboração e o refinamento do GEP – Gestão Estratégica de Pessoas, um plano de carreira que almejava homogeneizar o corpo funcional, garantindo a possibilidade de uma carreira em Y, diminuindo a dependência e o peso das funções gratificadas, valorizando o profissional mais técnico e tornando mais claros os critérios de promoção... Mas, afinal, onde foram parar os estudos do GEP? As duas consultorias contratadas para trabalhar o Planejamento Estratégico e o Capital Humano do BNDES estão levando isso em consideração? Elas estão cientes dos antigos pleitos dos funcionários, dos trabalhos desenvolvidos pela ARH entre 2010 e 2013 nesse sentido ou todo esse esforço foi descartado?

Os tempos são outros? Sim, com certeza, mas essa Casa existe desde 1952, e a pedra fundamental do Banco sempre foi a ótima qualidade e seriedade de seu corpo funcional, muitos governos passaram e outros virão, mas nós sempre estaremos aqui zelando pelo desenvolvimento do Brasil – o BNDES é um patrimônio de todos os brasileiros e seus funcionários o maior patrimônio do Banco. Em 2019 estaremos aqui trabalhando, em 2023 continuaremos determinados, em 2027, em 2031, sempre estaremos aqui trabalhando por um país melhor, que tenha uma infraestrutura adequada, que seja mais desenvolvido economicamente, com menos desigualdades sociais e regionais, mais industrializado, com um agronegócio forte, incentivando a inovação, o registro de marcas, o depósito de patentes, ajudando os pequenos e médios empreendedores, modernizando as relações comerciais, liberando financiamentos que melhorem a qualidade de vida dos brasileiros, enfim, ajudando a fomentar o país que todos almejam. Nada disso chega a ser novidade, é nosso trabalho e nós adoramos o que fazemos. A novidade é a forma como temos sido tratados nos dois últimos anos; são muitas perdas, ataques morais descabidos (da mídia e também do próprio governo federal), pouca informação e quase nenhum envolvimento com o corpo funcional, o que se reflete na deterioração de uma cultura organizacional construída ao longo de décadas, ou seja, mudanças estruturais estão sendo feitas rapidamente por um governo que assumiu interinamente em junho de 2006. Difícil de entender, quase impossível de se digerir.

Isso se refletiu bem na "Conversa com o Presidente" do dia 08/05/2018, quando para surpresa de muitos, o novo Presidente disse: "...de forma surpreendente até, não foi encontrado nenhum indício de irregularidade aqui no BNDES"; Senhor Presidente, com todo o respeito: Surpresa para quem? Para quem trabalha ou já trabalhou aqui no Banco, isso não é surpresa alguma, é quase um dogma, as pessoas que aqui trabalham são corretas e extremamente envolvidas com o desenvolvimento do país. Se houve políticas econômicas equivocadas e/ou dissonantes do pensamento atual, o corpo funcional não pode ser responsabilizado por isso. Estávamos a serviço do governo da época, assim com estamos também à sua disposição e estaremos na próxima gestão também, talvez o que tenha faltado foi um Plano Brasil de Longo Prazo, mas disso Celso Furtado já sabia não é mesmo? Independentemente de qualquer mudança, por mais radical que essa possa vir a ser, ela deve sempre respeitar sobremaneira os trabalhadores que sustentam uma instituição de tal relevância para o Brasil como é o BNDES.

No caso específico do verde opaco, quer dizer, do Nível Médio, é preciso fazer um breve exercício para reavivar a memória de todos: a) por ocasião da equalização das curvas salariais PUC’s X PEC’s, no final de 2007, esqueceram do Nível Médio, literalmente. Foi preciso que um colega pedisse a palavra no auditório e destacasse esse ‘pequeno’ detalhe. O NM havia sido esquecido na equalização, depois isso foi parcialmente corrigido em 2008 e 2009; b) na primeira apresentação dos estudos que a ARH fez sobre o finado GEP, em 2011, novamente esqueceram do Nível Médio, e dessa vez foi uma colega que pediu a palavra e alertou sobre o esquecimento. Só depois entramos nos planos do GEP; c) agora, em 2018, está sendo feita mais uma reestruturação organizacional no Banco, houve a primeira chamada para movimentação, o dito "Cadastro Especial" e nenhuma palavra sobre o Nível Médio, depois uma segunda chamada e nenhuma sinalização sobre o NM, agora em maio terminou essa fase e entramos na ‘Conclusão da reestruturação e liberação das movimentações’. Apesar da expectativa, nada, absolutamente nada foi feito ou dito em relação ao NM do Banco. Alarmante, incompreensível, preocupante... são alguns dos adjetivos que tenho ouvido de outros colegas do Nível Médio. Então se reestrutura uma empresa, altera-se toda a estrutura organizacional e não existe nenhuma definição para os mais de 400 funcionários de Nível Médio? Será que se esqueceram novamente ou foi algo muito bem pensado?

 
 
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