E era meu plano
estar aqui falando
de Kahneman quando
veio a apresentação
feita por pessoas
traquejadas pelo
mídia training,
apresentação que se
seguiu por um
artigo! conclamando
nosso engajamento na
defesa! desse
essencial
planejamento
estratégico! que
estamos fazendo
todos,
participativamente
(embora alguns
animais mais
participativos que
os outros, o que faz
o maior sentido
neste país onde o
PIG governa com quem
a justiça deixar). E
aí eu ia juntando
esses dois lances...
...e sai o artigo de
minha ex-gerente, a
última das pessoas
que eu esperaria ler
no VÍNCULO, artigo
bastante instigante,
perfeito para
começar uma reflexão
no momento em que o
caso Carillion
acontece na terra da
Rainha, matriz
ideológica de boa
parte das
assombrações
neoliberais que nos
assolam. Com isso
faria uma discussão
sobre Banco, PPPs
etc.
...mas aí um amigo
me manda na tardinha
de domingo, enquanto
eu assistia futebol
espanhol e esperava
pelo Super Bowl,
uma entrevista
do
Diretor-Presidente
da nossa excelente
consultoria
luso-germânica,
matéria publicada
neste vetusto
porta-voz do
quatrocentismo
paulista que é o
Estadão. E aí eu
paro esses dois
lances
–
aos quais pretendo
retornar
–
para discutir um
pouco do
entendimento deste
nosso desnorteado
país que está nesse
exemplar diálogo. É
quase carnaval,
serei breve. Vou
pegar dois pontos,
dois pontinhos
apenas. Tem mais,
mas a pressa é
inimiga da
digressão.
O primeiro, um que
certamente vocês já
ouviram centenas de
vezes, é o papinho
de que a economia
brasileira é muito
fechada. Porque,
comparando com
Alemanha, México e
Colômbia (onde raios
ele obteve aquele
número da
Colômbia?), a
participação do
setor externo no PIB
brasileiro é muito
pequena. E se formos
no
site do Banco
Mundial
olhar os dados, é
realmente
apavorante. Somos o
segundo “pior”,
depois do Sudão
(22%), empatados com
o Paquistão (25%). O
problema é que os
seguintes, colados
em nós, são a
Argentina (26%) e os
EUA (27%). Ué? Que
los hermanos
sejam parecidos
conosco, vá lá. Mas
os EUA? Aliás, se
olharmos
só as exportações,
os americanos
(11,9%) são piores
em termos de
percentual do PIB do
que nós (12,5%).
Será que a
participação de um
país no comércio
exterior tem a haver
com coisas como
geografia, tipo o
tamanho e a
população, a
distância da massa
continental da
Eurásia, o tamanho
relativo da economia
em relação aos
vizinhos, a
quantidade de
latitudes que
atravessam o país?
Será que a distância
do troca-troca que
acontece dentro da
Eurozona ou das
cadeias produtivas
regionais asiáticas,
relações que
acontecem por conta
de
“eficiências”,
dentre as quais se
encontram as de
natureza fiscal (vai
um
double irish dutch
sandwich
ou coisa parecida
para
escapar de pagar
imposto
pelo venti
servido
em Londres?),
tem influência nesse
número?
Defender uma maior
participação do
comércio exterior é
uma daquelas
abobrinhas
bacaninhas que todo
mundo fala por aí,
pela qual a economia
reza. Na boca de uma
consultoria alemã,
país que mantém um
patológico superávit
de balança
comercial, isso
ganha outra
conotação. Isso não
é estratégia, mas
dogma.
E em se tratando de
dogma, o segundo
ponto é ainda mais
gritante. E aqui eu
pego um trecho de
Other People’s Money,
do John Kay:
“But the popular
obsession with
Silicon Valley
should not lead
anyone to believe
that all successful
SMEs are made in
California. The
business writer
Hermann Simon has
identified around
two thousand firms
he calls ‘hidden
champions’,
distinguished by a
combination of
modest scale
(revenues below $4
billion) and
world-dominant
positions in niche
markets. (…)
Although there are
niche producers such
as these in the USA,
Italy and Japan,
two-thirds of the
‘hidden champions’
come from Germany
and the
German-speaking
areas of Switzerland
and Austria. These
‘hidden champions’
are the stars of the
Mittelstand,
the small- and
medium-size
companies that are
the basis of
Germany’s
extraordinary
strength in
manufacturing
exports. German
exports per head are
four times those of
the USA and more
than ten times those
of China. The
businesses of the
Mittelstand are
predominantly family
owned. (…)
(…) As noted in
Chapter 1 a
consequence of this
concentrated
ownership and
governance
structure, and the
success of family
controlled
Mittelstand
companies, is that
Germany has less
egalitarian income
and wealth
distribution than
other continental
European countries.”
Campeões ocultos!
Olha que
conceito
que faria a alegria
de Miriam Leitão
tivesse o BNDES por
trás disso. “Achamos
que o futuro do país
está na média
empresa” é não
entender que a
Alemanha tem um
quadro institucional
e histórico bastante
específico (até no
seu
entendimento de
economia),
que não é copiável,
que vagamente pode
servir de
inspiração, mas
nunca de template.
Fechando com o
próprio John Kay:
“The very different
environments of
German-speaking
Europe, California
and Tel Aviv
demonstrate that
there is no single
formula for success
in nurturing SMEs
and providing the
necessary finance.
Each of these
industrial groups –
the Mittelstand,
the Valley, the
Israeli electronics
cluster – has proved
effective in the
global competition,
but each is the
product of
particularities of
history, culture and
environment which
are probably
irreproducible
elsewhere.” |