Participaram da
audiência os
seguintes
convidados: Mansueto
de Almeida,
secretário de
Acompanhamento
Econômico do
Ministério da
Fazenda; Venilton
Tadini,
presidente-executivo
da Associação
Brasileira de
Infraestrutura e
Indústria de Base (Abdib);
José Ricardo Roriz
Coelho, diretor do
Departamento de
Competitividade e
Tecnologia da Fiesp;
Thiago Mitidieri,
presidente da
AFBNDES; Roberto
Ellery, professor de
Economia da UnB;
Otávio Ribeiro
Damaso, diretor de
Regulação do Banco
Central; José
Velloso, presidente
da Associação
Brasileira da
Indústria de
Máquinas e
Equipamentos (Abimaq),
também representando
a Confederação
Nacional da
Indústria (CNI);
Felipe Rezende,
professor associado
de Economia e
Finanças da Bard e
Levy Economics
Institute (NY);
Samuel Pessoa,
professor de
Economia da FGV; e
Leonardo Ribeiro,
economista e
assessor do Senado
Federal.
A audiência ainda
contou com a
participação do
presidente da
Comissão Mista,
senador Lindbergh
Farias (PT/RJ), do
relator da matéria,
Betinho Gomes
(PSDB/PE), e do
senador Armando
Monteiro (PTB/PE),
integrante da
Comissão. Também
participou
ativamente dos
debates o senador
José Serra
(PSDB/SP), que
estava no plenário.
Como nas outras
oportunidades, a
audiência pública da
última terça-feira
foi bem dividida,
confirmando o
caráter controverso
da substituição da
TJLP pela TLP –
todas as
apresentações feitas
pelos convidados
estão no
site do Senado
Federal.
Destacaram-se na
contestação à Medida
Provisória 777, o
presidente da
AFBNDES, Thiago
Mitidieri, os
representantes do
setor industrial
(para quem o
critério de cálculo
fará com que a TLP
seja mais alta e
mais volátil que a
TJLP, provocando
incerteza e
desestimulando o
investimento
privado), o
professor Felipe
Rezende e o senador
José Serra, que
criticou de forma
veemente a
iniciativa
governamental: "O
governo mexe no
BNDES e não mexe em
subsídios de
empréstimos em
outros bancos. Isso
é oportunismo
político".
O relatório
elaborado pelo
deputado Betinho
Gomes não foi lido
ontem em reunião da
Comissão Mista por
falta de quórum. A
leitura foi
remarcada para o dia
15, data em que
estava prevista a
votação da matéria.
"Mudança
precipitada, aposta
arriscada"
Em sua apresentação,
o presidente da
AFBNDES disse que
estava trazendo à
audiência as
preocupações dos
funcionários do
Banco. "Esta MP mexe
profundamente com o
BNDES. O Banco é uma
instituição que
existe há 65 anos.
Ele foi criado numa
época em que havia
uma ideia de projeto
de país. A
industrialização
seria um motor que
geraria as
transformações
necessárias para
modernizar a nossa
economia e o Brasil.
Ao longo desse
período, de vários
ciclos de
desenvolvimento da
economia, o BNDES
foi se
diversificando. Ele
nasceu como
instituição voltada
ao financiamento e à
análise de projetos
(expertise
até então
inexistente). À
medida que os
setores iam sendo
instalados; à medida
que ia evoluindo, o
BNDES também ia
criando mecanismos
para atribuir
competitividade,
como, por exemplo, o
Finame, o apoio às
exportações e o
Cartão BNDES – um
produto criado a
partir dos anos 2000
voltado
exclusivamente para
o apoio às micro,
pequenas e médias
empresas".
Sendo assim,
segundo Mitidieri,
qualquer medida que
mude profundamente a
forma como o BNDES
opera, precisa ser
feita com muito
cuidado, porque como
o Banco é parte
fundamental da
economia brasileira,
mudanças
precipitadas podem
gerar desarranjos e
prejuízos que não
estão sendo
considerados.
"O colega da
Fazenda, Fabio
Kanczuk, na
audiência realizada
no BNDES, usou a
expressão non
sequitur para se
referir a uma
espécie de
dissonância no
debate acerca da MP.
Eu atribuo essa
dissonância à
ausência de análises
sistemáticas e
estudos de impacto
sobre as
consequências da MP
777 para o
investimento de
longo prazo, a
competitividade da
indústria, o nível
de emprego e o
crescimento da
economia. Como disse
o professor Ernani
Teixeira em outra
audiência, essa
medida significa um
‘salto no escuro’,
porque, como não há
estudos que tratem
de suas
consequências, é uma
aposta muito
arriscada".
Debate enviesado
Toda a discussão
sobre o uso do
subsídio está
enviesada, disse
Mitidieri: "Só se
fala do custo do
subsídio. Passa a
impressão de que o
subsídio é um crime
e que acabar com ele
significa que haverá
uma moralização do
BNDES, uma
moralização do país.
Subsídio é usado em
todos os países que
têm uma economia
relevante. No
debate, o custo é
enfatizado,
ignorando-se o
benefício".
Para Mitidieri, o
papel do BNDES como
banco de
desenvolvimento foi
completamente
desconsiderado nesse
processo. "Não houve
a participação do
corpo técnico do
BNDES na formulação
dessa proposta.
Inclusive, esse é um
dos motivos de não
terem sido feitas
essas análises. É
uma discussão
essencialmente
política e não
técnica", destacou.
Segundo o
dirigente da AF, não
basta dizer que é,
tem que demonstrar.
E perguntou: "A TLP
é compatível com o
investimento de
longo prazo? Ela
preserva a
competitividade do
Finame e, em
consequência, da
indústria de
capital? Viabiliza o
Cartão BNDES?
Preserva a atuação
anticíclica do
BNDES?"
"Em qualquer
manual de
investimento você lê
que para financiar o
investimento de
longo prazo, é
necessária uma taxa
de juros baixa,
estável e
previsível. E a TLP
é o oposto disso: é
alta, volátil e por
isso mais
imprevisível. A
Abimaq fez uma
exposição aqui
demonstrando os
impactos nega-tivos
da TLP na
competitividade da
indústria. Com o
encarecimento do
custo do
financiamento, a
concorrência
estrangeira vai ser
mais favorecida no
mercado brasileiro.
E que prejuízo esta
medida pode ter para
as MPMEs? Outra
coisa: a expansão de
empréstimos do
Tesouro ao Banco, de
crescimento do
desembolso do BNDES,
ocorreu em função da
crise de 2008. O FMI
e o Banco Mundial
reconheceram a
importância da
atuação anticíclica
do BNDES para que a
economia brasileira,
naquele momento, não
tivesse afundado.
Como o voto do
relator pode estar
certo de que a MP
777 não afeta o
BNDES e os segmentos
apoiados por ele, se
não há estudos
sólidos demonstrando
isso?"
O presidente da
AFBNDES destacou que
em seu voto,
divulgado
antecipadamente, o
relator diz que a MP
deveria ser aceita
se tivesse respostas
positivas para duas
perguntas: "O
balanço de custos e
benefícios, sociais
e econômicos,
associado à
sistemática vigente,
é desfavorável ao
emprego da TJLP? Os
benefícios esperados
da introdução da TLP
recomendam sua
adoção?"
"Que balanço de
custos e benefícios?
Aonde está esse
balanço?", perguntou
Mitidieri. "O que é
citado é o lado do
custo, que é simples
determinar porque
você está
calculando, na
verdade, o diferencial entre a
Selic e a TJLP. Mas
onde estão os
benefícios? Não há
uma menção sequer no
relatório sobre
os benefícios da
atuação do BNDES. E
não é possível que o
BNDES não traga
nenhum benefício à
economia
brasileira".
Sobre a pergunta
relativa aos
benefícios
esperados com a
introdução da TLP,
Mitidieri trouxe
outras interrogações:
"Como essa pergunta
pode ser respondida?
Com base em quê?"
No documento, o
relator diz que
bastaria que uma das
respostas parecesse
negativa para que
ele se inclinasse
pela rejeição da MP.
"Ora, estamos na
terceira audiência
pública. As duas
primeiras
apresentaram um
contraditório forte
em relação a essas
questões e isso não
foi considerado. Eu
acho que há uma
contradição na
posição do relator",
afirmou o presidente
da Associação.
Urgência da MP
777
Para o dirigente
da AFBNDES, a
ausência de estudos
de impacto e análise
das consequências da
MP enfraquece o
sentido de urgência
da iniciativa ("Se
não sabemos para
onde estamos indo,
para que a pressa?"). Outro ponto: a
avaliação do impacto
negativo na dívida
pública do subsídio
implícito a ser
usado pelo BNDES nos
próximos 43 anos,
estimado em R$ 109
bilhões, é feita sem
considerar os
benefícios que a
aplicação desses
subsídios poderá
gerar para a
economia e para as
finanças públicas.
Ao tratar do real
motivo da MP 777,
que é eliminar o
custo do subsídio
implícito, Thiago
Mitidieri chamou
atenção para o que o
BNDES pagou em
dividendos e
tributos de 2007 a
2016: dividendos ao
Tesouro Nacional –
R$ 97.214 milhões;
tributos: R$ 62.298
milhões (total:
160.142 milhões) –
equivalendo a 56%
dos R$ 284.700
milhões calculados
como subsídio das
operações em TJLP e
67% do subsídio
implícito.
"E os outros
benefícios não
computados? Qual é o
efeito dos
investimentos
apoiados pelo BNDES
na arrecadação
tributária? Por que
esses dados não
aparecem no voto do
relator?", perguntou Mitidieri.
O presidente da
AFBNDES também fez
referência ao
caráter "arbitrário"
da TJLP. "Por que a
mesma autoridade
monetária que define
a TJLP, a Selic e a
meta de inflação só
é ‘arbitrária’
quando define a TJLP?"
Por fim, sem
tempo para tratar de
todos os temas
presentes em sua
apresentação,
Mitidieri ainda
tocou em dois pontos
fundamentais: o
BNDES como Banco
de Desenvolvimento e
o papel articulador
do Congresso
Nacional: "O BNDES
não é uma
instituição de
mercado. Em todo o
mundo bancos de
desenvolvimento
operam em condições
diferenciadas em
relação ao mercado,
com mecanismos de
incentivo. O KfW,
banco de fomento
alemão, capta
recursos com o aval
do Tesouro, possui
imunidade tributária
e não paga
dividendos. Quais
instrumentos o BNDES
terá à disposição
para cumprir seu
papel? É necessário
fazer essa
discussão, porque a
MP 777 retira tais
instrumentos e não
oferece qualquer
compensação".
"O Congresso
Nacional, legítimo
representante da
sociedade
brasileira, deve ser
um eficiente
controlador,
cobrando do BNDES as
contrapartidas
socioeconômicas e
ambientais
resultantes de sua
atuação. Cobrar e
prestar contas à
população é dar
transparência. O
Congresso também tem
um papel nobre:
articular um pacto
político pelo
desenvolvimento,
pela retomada do
crescimento e pela
empregabilidade",
finalizou o
presidente da AFBNDES.