No final dos
anos 90 e início
do novo milênio,
os desembolsos
anuais para essa
finalidade
encontravam-se
na casa dos US$
100 milhões; a
partir de 2003
eles passaram a
subir quase que
ininterruptamente
até atingir US$
1,5 bilhões em
2011, tendo
caído desde
então,
progressivamente,
para a casa dos
US$ 500 milhões
de reais em
2015. No total,
nos 18 anos
entre 1998 e
2015, tivemos um
desembolso de
US$ 10 bilhões
de dólares, dos
quais cerca de
US$ 5 bilhões
foram destinados
a América do
Sul, US$ 2
bilhões para o
resto da América
Latina e US$ 3,5
bilhões para a
África.
São conhecidos,
ainda que
frequentemente
distorcidos, os
argumentos
favoráveis e
contrários aos
méritos dessa
atuação do
BNDES. Não é
objeto do
presente artigo
adicionar nada a
esse debate nos
termos em que
vem sendo
travado. Como
todos sabemos, o
BNDES
recentemente
anunciou
modificações na
sua atuação
nesse campo que
também não serão
alvo de exame
aqui. O que
pretende-se
destacar apenas
é a não
consideração de
uma questão
fundamental que
talvez poderia
ajudar a
recontextualizar
os termos do
debate.
Por uma série de
razões
reconhece-se
amplamente que o
país tem grande
interesse na
integração
econômica da
América do Sul e
que a ausência
de
infraestrutura
logística é um
dos principais
fatores que hoje
impedem essa
integração. De
fato, há pouca
dúvida de que as
barreiras
logísticas são
hoje mais
relevantes que
as barreira
tarifárias para
a intensificação
do comércio
intra-regional.
Também é
amplamente
reconhecido que
a integração da
infraestrutura
energética
possibilitaria o
aumento da
eficiência e
aproveitamento
de
complementaridades
entre os países
da região.
Se esse
diagnóstico está
correto, e
insistindo,
trata-se de um
diagnóstico
sobre o qual há
acordo amplo,
inclusive em
termos do
espectro
ideológico,
segue que há
importantes
obras de
infraestrutura
localizadas
geograficamente
fora do
território
nacional que são
de interesse
estratégico para
o país. Não é um
paradoxo que
todo debate
sobre o apoio a
obras de
infraestrutura
fora do
território
nacional seja
travado sem
considerar essa
questão?
O caráter
paradoxal da
questão talvez
seja ainda mais
elevado se
levarmos em
conta que o
atual sistema de
apoio à
exportação
brasileira tenha
tido efeito
virtualmente
nulo para a
realização das
obras de
infraestrutura
de integração
regional. Depois
de 16 anos de
fundação da
IIRSA
(Iniciativa para
a Integração da
Infraestrutura
Regional
Sul-Americana),
hoje parte do
COSIPLAN
(Conselho
Sul-Americano de
Infraestrutura e
Planejamento) da
UNASUL (União de
Nações
Sul-Americanas),
as obras
incluídas na
carteira de
projetos de
integração não
contaram com o
apoio do sistema
brasileiro de
exportação.
Mesmo os bancos
multilaterais da
região BID e CAF
encontram
dificuldades no
apoio aos
projetos da
IIRSA. Os
projetos são
listados pelos
governos da
região, mas não
constam da lista
de prioridade de
financiamento
quando esses
mesmos governos
recorrem ao
BNDES ou aos
bancos
multilaterais.
Por que os
projetos de
integração
regional não
chegam às
carteiras do
BNDES ou do BID?
Várias
explicações, não
excludentes,
talvez até
complementares,
podem ser
elencadas.
• Países da
América do Sul
passaram anos
subinvestindo em
suas
infraestruturas
básicas,
inclusive
infraestrutura
urbanas que por
sua natureza
estão
circunscritas às
grandes cidades,
ou seja, não são
de integração;
• Os
investimentos de
integração
muitas vezes são
realizados em
regiões
periféricas,
pouco
desenvolvidas
dos países em
questão. A
viabilidade
econômica dos
projetos de
integração
muitas vezes
sofre da falta
de um
planejamento do
desenvolvimento
para essas
regiões;
• O comércio
intra-regional é
baixo. Esse
ponto é
importante
porque ele
envolve um tema
crucial da
integração:
existe um ciclo
vicioso que para
ser desfeito
precisa contar
com uma ação
estatal.
Ainda que a ação
isolada do BNDES
ou do sistema
brasileiro de
apoio à
exportação não
possa
completamente
dar conta dos
fatores aqui
envolvidos,
algumas
modificações
poderiam ser
feitas desde já
para sinalizar a
prioridade
estratégica
desses projetos,
e atrair o
interesse dos
países vizinhos
na sua
realização.
Entre as medidas
a serem
consideradas
deveriam
constar:
• Definição de
uma carteira de
projetos
estratégicos de
integração;
• Linha
específica de
apoio à
exportação para
os projetos
dessa carteira.
Essa linha
deveria não
apenas contar
com condições
financeiras,
taxas e prazos
diferenciados,
mas outras
condições como:
(a) a
possibilidade de
financiamento de
gastos locais;
(b) a
possibilidade de
contemplar
acordos de
cooperação
visando a
capacitação das
empresas locais
que colaborem
eventualmente
com as empresas
brasileiras nos
projetos;
• Estender para
os projetos da
carteira de
integração o
financiamento
inclusive de
parte da obra
que fosse
realizada por
empresas da
região, e não
somente por
empresas
brasileiras,
complementando o
apoio que
prestaríamos via
exportação;
• Envolvimento
no fomento
desses projetos,
ou seja,
envolvimento
nas fases de
avaliação e
design dos
projetos de
integração, ao
invés de
meramente
esperar para que
empresas
recorram ao
BNDES ou ao
sistema
brasileiro de
exportação com
projetos
comercialmente
já fechados.
Como a
possibilidade de
apoio a empresas
não nacionais
pode ser
considerada uma
heresia dada a
história do
BNDES, é
relevante
lembrar que
Rômulo Almeida,
quando diretor
do BNDES, em
1987, publicou
artigo
defendendo que,
entre outros
instrumentos, o
estímulo à
integração
deveria contar
com a concessão
de "tratamento
nacional aos
investidores" em
projetos de
integração.
Do ponto de
vista da
integração, o
debate sobre
apoio a obras de
infraestrutura
no exterior tem
sofrido de
excessiva
preocupação com
o volume do
aporte para
esses projetos,
e de falta de
atenção quanto
aos possíveis
direcionamentos
desses aportes.
Uma vez
recontextualizado
o debate dentro
de uma
estratégia de
desenvolvimento
econômico,
acabaremos por
concluir,
voltando ao
debate sobre o
volume dos
aportes, que
eles têm sido
tímidos e não
vultuosos.