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Antropólogo, sociólogo e filósofo francês |
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Os seres
humanos, a
sociedade, a
empresa, não são
máquinas
triviais: uma
máquina trivial
é aquela da
qual, ao se
conhecer todos
os inputs
e todos os
outputs,
pode-se predizer
o seu
comportamento
desde que se
saiba tudo o que
entra na
máquina. De
certa maneira,
nós também
somos máquinas
triviais das
quais se pode em
grande parte
predizer os
comportamentos.
De fato, a vida
social exige que
nos comportemos
como máquinas
triviais. Está
claro, não
agimos como
puros autômatos,
buscamos meios
não triviais
quando
constatamos que
não podemos
alcançar nossos
fins. O
importante é que
surgem momentos
de crise,
momentos de
decisão, em que
a máquina se
torna não
trivial: ela age
de uma maneira
imprevisível.
Tudo o que diz
respeito ao
surgimento do
novo não é
trivial e não
pode ser dito
antecipadamente.
Assim, quando os
estudantes
chineses estão
na rua aos
milhares, a
China torna-se
uma máquina não
trivial. Em
1987-89, na
União Soviética,
Gorbatchev se
comporta como
uma máquina não
trivial! Tudo o
que se passou na
história,
sobretudo nas
épocas de crise,
são
acontecimentos
não triviais que
não podem ser
preditos. Joana
d’Arc, que
escuta vozes e
decide procurar
o rei da França,
tem um
comportamento
não trivial.
Tudo o que vai
acontecer de
importante na
politica
francesa ou
mundial diz
respeito ao
inesperado.
Nossas
sociedades são
máquinas não
triviais no
sentido em que
elas também
conhecem sem
cessar crises
politicas,
econômicas e
sociais.
Qualquer crise é
um acréscimo de
incertezas. A
probabilidade de
divisão diminui.
As desordens
tornam-se
ameaçadoras. Os
antagonismos
inibem as
complementaridades,
os virtuais
conflitos se
atualizam. Os
controles falham
ou se quebram. É
preciso
abandonar os
programas,
inventar
estratégias para
sair da crise.
Com frequência
necessitamos
abandonar as
soluções que
remediavam as
antigas crises e
elaborar novas
soluções.
Preparar-se
para o
inesperado
A complexidade
não é uma
receita para
conhecer o
inesperado. Mas
ela nos torna
prudentes,
atentos, não nos
deixa dormir na
aparente
mecânica e na
aparente
trivialidade dos
determinismos.
Ela nos mostra
que não devemos
nos fechar no "contemporaneísmo",
isto é, na
crença de que o
que acontece
hoje vai
continuar
indefinidamente.
Por mais que
saibamos que
tudo o que
aconteceu de
importante na
história mundial
ou em nossa vida
era totalmente
inesperado,
continuamos a
agir como se
nada de
inesperado
devesse
acontecer daqui
pra frente.
Sacudir essa
preguiça mental
é uma lição que
nos oferece o
pensamento
complexo.
O pensamento
complexo não
recusa de modo
algum a clareza,
a ordem, o
determinismo.
Ele os considera
insuficientes,
sabe que não se
pode programar a
descoberta, o
conhecimento,
nem a ação.
A complexidade
necessita de uma
estratégia.
Claro, segmentos
programados com
sequências em
que o aleatório
não intervenha
são uteis ou
necessários. Em
situação normal,
a pilotagem
automática é
possível, mas a
estratégia se
impõe desde que
sobrevenha o
inesperado ou o
incerto, isto é,
desde que
apareça um
problema
importante.
O pensamento
simples resolve
os problemas
simples sem
problemas de
pensamento. O
pensamento
complexo não
resolve por si
só os problemas,
mas se constitui
numa ajuda à
estratégia que
pode
resolvê-los. Ele
nos diz:
"Ajuda-te, o
pensamento
complexo te
ajudará".
O que o
pensamento
complexo pode
fazer é dar, a
cada um, um
memento, um
lembrete,
avisando: "Não
esqueças que a
realidade é
mutante, não
esqueça que o
novo pode surgir
e, de todo modo,
vai surgir".
A complexidade
situa-se num
ponto de partida
para uma ação
mais rica, menos
mutiladora.
Acredito
profundamente
que quanto menos
um pensamento
for mutilador,
menos ele
mutilará os
humanos. É
preciso
lembrar-se dos
estragos que os
pontos de vista
simplificadores
têm feito, não
apenas no mundo
intelectual, mas
na vida. Milhões
de seres sofrem
o resultado dos
efeitos do
pensamento
fragmentado e
unidimensional.
____________________
(*) Extraído
de "Introdução
ao pensamento
complexo"; 5.ed.
– Sulina, 2015,
p. 82-83.
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