Acontece

Edição nº1526 – sexta-feita, 13 de janeiro de 2023

“O BNDES tem que liderar na economia digital, na economia verde e na economia inclusiva”

Novo presidente do Banco, Aloizio Mercadante dá entrevista à jornalista Miriam Leitão, da GloboNews, e fala sobre os planos para a nova gestão

reprodução

 

Em entrevista à jornalista Miriam Leitão, da GloboNews, que foi ao ar na última quarta-feira (11), o novo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, falou sobre a linha de atuação do Banco sob nova direção: “O BNDES é uma instituição que tem 70 anos de história. Ele teve papel decisivo na industrialização e no desenvolvimento do Brasil. E os países em desenvolvimento de uma forma geral, e mesmo países desenvolvidos, como a Alemanha, têm banco de desenvolvimento público, que cumpre papel fundamental em suprir lacunas do mercado, em fomentar setores inovadores e a agenda contemporânea. E o que a gente pensa para o BNDES? O Banco tem que ser digital, verde e inclusivo. Essas são três palavras-chave para a gente entender o papel do BNDES. E ele também tem que recuperar o papel de indução à industrialização, à reindustrialização do país, e se debruçar sobre os problemas dessa economia contemporânea, da crise climática, da transição digital, da indústria 4.0. Quer dizer, ele tem que se ousado e ser parceiro do mercado de capitais nesse imenso desafio”.

Mercadante afirmou que o investimento no desenvolvimento sustentável da Amazônia poderá atrair recursos externos para o país, especialmente da União Europeia. "Com o Brasil liderando essa agenda da biodiversidade, como já liderou no passado, temos 55 trilhões de euros na União Europeia para terceiros países”. Com a boa relação que o presidente Lula tem com líderes europeus, Mercadante avalia que “temos grandes chances de trazer uma parte importante desses recursos para financiar projetos de desenvolvimento sustentável para a Amazônia", em fala que repercutiu nos principais veículos de imprensa.

Segundo Mercadante, o Brasil tem a oportunidade de "liderar" os investimentos "verdes" no mundo. Na verdade, segundo ele, o desenvolvimento sustentável da Amazônia, com a preservação da floresta, seria o único caminho para o país ter uma boa inserção no cenário internacional. "Ou o Brasil enfrenta isso ou estamos fora do cenário internacional. O que acende ou apaga a luz lá fora é a Amazônia. Então, colocando a proteção dos nossos biomas, especialmente a Amazônia, vamos ter a contrapartida de atrair recursos e desenvolver outros setores, de energia limpa, de economia limpa, gerar valor agregado, pesquisa, emprego e renda, de forma sustentável", completou.

Fundo Amazônia – Mercadante informou que a primeira reunião do Fundo Amazônia, após a posse de Lula, será em fevereiro. “Assim que o Lula assumiu, o presidente alemão esteve aqui. Estive com ele e com a ministra do Meio Ambiente e a ministra da Cooperação. Agora, no final do mês, vem o Olaf Scholz (chanceler alemão). Vai vir também o ministro da Fazenda. Vão vir mais lideranças do primeiro time do governo da Alemanha em um mês do que em quatro anos do governo anterior. E eles sinalizaram isso muito fortemente quando fizeram aquela doação para o Fundo Amazônia e a Noruega imediatamente liberou os recursos. Nós temos R$ 3,3 bilhões não reembolsáveis para o Fundo. Eu já acertei com o novo diretor geral da Polícia Federal e com o Flávio Dino (ministro da Justiça e Segurança Pública) um grupo de trabalho para a gente estudar todas as operações de comando e controle para enfrentar garimpo e desmatamento na Amazônia e, ao mesmo tempo, entrar com políticas públicas para gerar emprego e renda e alternativa de financiamento para as 28 milhões de pessoas da Amazônia. Você vai tirar uma fonte de renda predatória, destrutiva, que o mundo não aceita, que o país não pode permitir, mas precisa colocar alguma coisa no lugar”, enfatizou. 

“Campeões nacionais” – Questionado pela jornalista, o novo presidente do BNDES também falou sobre a política de fomento a “campeões nacionais”, colocada em prática em governos anteriores do PT: “Nós temos hoje um mercado de capitais muito consolidado. E as empresas que têm acesso ao mercado de capitais não precisam do BNDES. O Banco pode fazer parceria, por exemplo, para alongar o financiamento em infraestrutura, que tem prazo maior, risco maior. O Banco pode ajudar a mitigar riscos, usar o fundo garantidor, que é um instrumento contemporâneo muito eficiente para alavancar o financiamento, mas ele não tem que competir, nem substituir o mercado de capitais. As empresas consolidadas, maduras, não precisam do BNDES”. Para Mercadante, o Banco precisa ter um papel muito forte junto ao setor de micro, pequenas e médias empresas, na democratização do acesso ao crédito, através, por exemplo, de cooperativas de crédito. 

Para o novo presidente do BNDES, a política de “campeões nacionais” é uma página virada. “Ali você tinha uma crise de 2008 e 2009, um momento muito difícil do mundo, a quebra do Lehman Brother, crise de crédito, e você tem experiências internacionais em que essa parceria foi muito exitosa em relação a algumas empresas, mas eu acho que o mercado de capitais hoje está financiando essas companhias. O que você pode fazer é um consórcio. O BNDES entrar para estimular um novo investimento, um programa, um setor da economia. Por exemplo, o setor de aviação e a Embraer, que é uma empresa que só existe porque o BNDES existe. É um setor de grande valor agregado, muita tecnologia e muita inovação. O BNDES foi fundamental na linha de crédito de exportações de aviões. Então, há coisas que o BNDES tem que continuar fazendo”. Mercadante também citou outros setores que necessitaram da atuação do BNDES para se desenvolverem, como papel e celulose, energia eólica e fármacos. “Você tem que olhar setores estratégicos e ajudar, impulsionar, viabilizar e trabalhar sempre em parceria com o mercado de capitais”, destacou.

Aportes do Tesouro – Sobre o fortalecimento do funding do Banco via aportes do Tesouro Nacional, Mercadante informou que o Banco recebeu R$ 420 bilhões e já devolveu R$ 540 bilhões e ainda falta uma parcela de R$ 24 bilhões. “Eu vou conversar com o TCU e a Fazenda para jogar isso para o segundo semestre porque precisamos tomar pé da situação. O ideal é uma relação de equilíbrio entre o Banco e o Tesouro. E não é que o Tesouro não possa fazer uma operação (do tipo). Na pandemia, foi criado aqui o FGI PEAC (Programa Emergencial de Acesso ao Crédito). O Tesouro entrou com R$ 20 bilhões de funding e foram alavancados R$ 94 bilhões de crédito. Uma excelente experiência em meio a um momento de crise de liquidez. Você pode eventualmente ter este tipo de coisa, mas não tem espaço no Tesouro hoje para o BNDES solicitar recursos, e não há disposição. Eu estava na coordenação dos grupos técnicos de transição e sei o tamanho do apagão fiscal que nós herdamos. Como é que vai ter recursos para o BNDES? Não vai ter. E o Haddad (ministro da Fazenda) vai proteger o Tesouro”.

O caminho, de acordo com o novo presidente do BNDES, é buscar alternativas de financiamento. “Por isso que o Brasil ser o G1 da biodiversidade no planeta é um ativo, é um instrumento para a gente ter acesso a recursos favorecidos, que podem compensar a restrição do Tesouro para poder melhorar a qualidade do crédito internamente. Nós temos que melhorar a Tesouraria do Banco, melhorar a eficiência da gestão, para poder liberar mais recursos para o crédito, porque se não tiver crédito não tem crescimento”.

TLP – Mercadante afirmou que qualquer mudança na TLP (Taxa de Longo Prazo) terá que ser discutida com o Congresso, porque é lei, mas tem críticas à taxa de juros incluída no Banco durante o governo Temer: “A diretoria do Banco não tem esse poder. É lei, o BNDES não pode alterar a TLP, vamos tirar esse fantasma da discussão. Mas ela tem um primeiro problema: a volatilidade. O IPCA que entra no cálculo é o do mês. Quando a inflação sobe num mês, a taxa explode e arrebenta o pequeno empresário. Você precisa ter uma taxa que seja mais estável, com um cálculo de três, cinco meses. Você tem que alongar para amortecer as oscilações. O segundo problema da TLP é que os juros são os da NTN-B de cinco anos. Ela tem estado acima da Selic e acima do custo médio de rolagem da dívida. Nós podemos trabalhar o tema da TLP sem recursos do Tesouro. Não estou falando em subsídio, mas não faz sentido um banco de desenvolvimento cobrar uma taxa muito acima do que é o custo que o governo tem para captar no mercado. Não vou competir com o setor privado, mas quero trabalhar para permitir um crédito mais barato, em parceria com o setor privado”.

Segundo Mercadante, a ideia é oferecer uma taxa mais baixa para os bancos privados para que eles possam oferecer na ponta uma taxa mais competitiva. “E ainda tenho um problema na relação com o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), que é o grande funding do Banco.  Hoje, o superávit do FAT é usado para a Previdência Social. Mas nós podemos fazer uma taxa menor para setores específicos como inovação, meio ambiente e micro e pequena empresa. E isso passaria pelo Congresso, a Fazenda tem que estar de acordo, o Banco Central vai acompanhar, mas eu vejo que tem espaço para a gente ajustar a taxa. Nós não vamos interditar esse debate. E a opção não é voltar com a TJLP”, ressaltou.

Mercadante ilustrou o tema com a informação de que durante o Plano Real e até 2007, o tamanho do BNDES era mais ou menos 2% do PIB. “Quando vem a crise do subprime, o BNDES cresce e vai a 4,3%, dobra de tamanho, foi quando gerou todo esse ruído. Hoje o BNDES é 0,7% do PIB. Ele é um terço do que era durante o Plano Real e o primeiro governo Lula. Quer dizer: se a gente dobrar o tamanho do BNDES, ainda não chega na taxa histórica do que foi na economia contemporânea brasileira. Então tem espaço para o Banco crescer sem agredir o sistema de crédito privado”, disse.            

Banco digital – Em relação à transição digital, Mercadante explicou que o Banco tem canais digitais, mas precisa melhorar mais, se modernizar. Para ele, há uma dimensão muito importante que é o Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações). Um dos projetos do futuro presidente do BNDES é, com recursos do Fundo, acelerar a digitalização das escolas públicas. “A pandemia escancarou o fosso digital no Brasil, e já estou em contato com o MEC para que o Banco entre nesse processo de digitalização”.

Equidade de gênero e diversidade – Na entrevista à GloboNews, Mercadante demonstrou preocupação com a pauta da equidade de gênero e da diversidade. "Nós vamos ter, dos nove diretores, quatro mulheres" – entre elas, Helena Tenório, funcionária da Casa que será a diretora de RH e Operações. Helena participa de Comissão de Mulheres que teve reunião sobre o tema com o novo presidente na sexta-feira passada (6). As mulheres representam aproximadamente 36% do quadro funcional, conforme Relatório Anual do BNDES de 2021.

"Agora, quando fui olhar a participação dos negros, é 1,6% (do total de funcionários). Junto com pardos, (sobe para) 4,6%. E nenhum cargo da alta hierarquia do BNDES. Não tem um superintendente negro na história do Banco. Então, eu fiz a primeira reunião da história com os negros, porque eles não tinham uma representação própria. Vamos fazer essa promoção. Vamos fazer um trainee no Banco, que é muito valorizado no mercado, só para negros e negras", disse Mercadante, lembrando que não há CEOs negros no setor financeiro brasileiro. "Também vamos ter um concurso público (não há seleção pública desde 2012) com política de ação afirmativa. Então nós vamos aumentar a presença de negros em cargos de chefia, fazer um trainee específico e um concurso com ações afirmativas para aumentar a presença de negros. O BNDES tem que liderar na economia digital, na economia verde e na economia inclusiva, mas tem que liderar também pelo exemplo. Temos que fazer aqui o que a gente quer que a sociedade e o sistema financeiro façam”. 

► A Globoplay disponibilizou para seus assinantes a íntegra da entrevista concedida pelo novo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, à jornalista Miriam Leitão, da GloboNews. Clique aqui.

► Leia também

“Mercadante recebe aval do TCU para nomeação ao BNDES” (UOL/Estadão)


Acontece

Carta aberta ao novo Presidente do BNDES, Aloizio Mercadante

Acontece

Contribuições para documento a Mercadante até quinta-feira (19)

Acontece

“Perspectivas sobre a COP e os rumos da agenda climática” no podcast Missão Desenvolvimento

Acontece

Sobre a cobrança de mensalidade e demais serviços relativos ao mês de janeiro/2023

Acontece

Inscrição de chapas na eleição para Conselhos da FAPES termina na segunda, 16/1

 
 

EDIÇÕES ANTERIORES

(a partir de 2002)

SERVIÇOS

CIPA 2023 toma posse na terça-feira, 18/1

Na próxima terça-feira (18) tomará posse a nova Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Sistema BNDES – CIPA BNDES. A cerimônia acontecerá às 14h30, no auditório Reginaldo Treiger, no S1 do Edserj.

A CIPA BNDES 2023 será composta por 10 integrantes eleitos pelos empregados e 10 integrantes indicados pelo empregador.

Após a posse, às 15h, haverá uma roda de conversa sobre saúde mental, com a psicóloga Glauce Rocha e o psiquiatra Walter Gonçalves.

Tanto a posse quanto a palestra poderão ser assistidas via teams em: http://url.bndes.net/
posseCIPA