Opinião

Edição nº1443 – sexta-feira, 28 de maio de 2021

Mais calor do que luz: a participação do professor Carlos Young no podcast Missão Desenvolvimento

Marcus Aguiar

 

Administrador no BNDES 

Não é segredo para ninguém que o BNDES passa por um dos momentos mais desafiadores de sua história. Momento esse que tem exigido um ativismo inédito de nossas Associações. 

Há alguns meses a nossa Associação se propôs a organizar e patrocinar o podcast Missão Desenvolvimento, programa veiculado no Spotify, que cumpre um importante papel de difusão do debate das políticas públicas associadas ao desenvolvimento econômico, bem como tem se constituído como uma importante ferramenta de registro histórico das ações do BNDES em prol do desenvolvimento da sociedade brasileira.  Contudo, após uma sequência de programas interessantes e acertados, creio que a produção do podcast foi extremamente infeliz na seleção do convidado para o episódio nº 11, o professor Carlos Young, da UFRJ. Este focou sua intervenção em platitudes sobre o desenvolvimento sustentável que pouco iluminam a elaboração de políticas públicas. 

Confrontado por seu amigo pessoal (confidência revelada ao longo do episódio) e nosso colega Márcio Macedo, o professor perde o humor e sugere que o colega teria distorcido sua fala.  Ao contrário de tudo que ouvi no episódio, o colega Márcio foi absolutamente fiel à fala do nobre professor, a qual buscou ponderar com fatos históricos do BNDES e considerações sobre a operacionalização de políticas públicas. 

Das diversas ilações do citado professor, duas me chamaram a atenção pelo exotismo e pelo potencial impacto que pode ter sobre a imagem da nossa instituição: (1) que o apoio do BNDES ao setor de proteína animal seria responsável pela aceleração do desmatamento que assistimos nos dias de hoje; (2) que o financiamento das hidrelétricas recentemente construídas na Região Norte do Brasil era “um dos episódios mais lamentáveis da história do BNDES”. 

A primeira ilação me parece controversa, e conecta injustamente o BNDES a uma tragédia em curso. Conforme comentado pelo economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, o apoio do BNDES ao setor de proteína animal foi parte de uma longa política visando a profissionalização da cadeia da carne, gerando maior retenção do valor agregado e elevação dos padrões sanitários dos frigoríficos e de sanidade animal.

Adicionalmente, parcela relevante do apoio mais recente do BNDES foi voltada à internacionalização dessas empresas para atuarem em mercados de países desenvolvidos, como Estados Unidos e Austrália – países que se encontram afastados da controvérsia recente do desmatamento. Não custa lembrar que entre 2005 e 2015, contemporâneo às operações de crédito e participações, o desmatamento na Amazônia Legal caiu de 27 mil Km2 para 5,2 mil km2, demonstrando que políticas produtivas e consorciadas com políticas ambientais produzem resultados expressivos.  Apenas após a intervenção do colega benedense é que o professor atenuou seu comentário, reconhecendo a necessidade de que as políticas de crédito agrícola sejam aperfeiçoadas – algo que transcende em muito o BNDES.

A segunda ilação está relacionada aos projetos hidrelétricos do Madeira, cuja aprovação deveria ser considerada motivo de “vergonha” para a instituição. Me parece surpreendente que se exija que o BNDES não tivesse financiado um projeto de energia renovável, compatível com suas políticas operacionais, previsto no planejamento do governo federal, licenciado pelo órgão competente, com diversas medidas de mitigação e compensação aprovadas pelos órgãos anuentes e de licenciamento.

A generalização, frases de efeito do professor, ainda que atraiam o aplauso fácil, pouco iluminam o debate público. Ao contrário, servem de combustível a críticas e a procedimentos apuratórios movidos contra funcionários, que a própria Associação tem recorrentemente denunciado como injustos. 

Acredito que o bom debate sobre os objetivos e externalidades das políticas públicas devam ser sempre bem recebidos por esse corpo funcional, como fonte de aprendizado e como elemento de transparência de nossa instituição. Contudo, as falas do citado professor não constituem um bom exemplo desse objetivo. 

 

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