Não é segredo para
ninguém que o BNDES
passa por um dos
momentos mais
desafiadores de sua
história. Momento
esse que tem exigido
um ativismo inédito
de nossas
Associações.
Há alguns meses a
nossa Associação se
propôs a organizar e
patrocinar o podcast
Missão
Desenvolvimento,
programa veiculado
no Spotify, que
cumpre um importante
papel de difusão do
debate das políticas
públicas associadas
ao desenvolvimento
econômico, bem como
tem se constituído
como uma importante
ferramenta de
registro histórico
das ações do BNDES
em prol do
desenvolvimento da
sociedade
brasileira.
Contudo, após uma
sequência de
programas
interessantes e
acertados, creio que
a produção do
podcast foi
extremamente infeliz
na seleção do
convidado para o
episódio nº 11,
o professor Carlos
Young, da UFRJ. Este
focou sua
intervenção em
platitudes sobre o
desenvolvimento
sustentável que
pouco iluminam a
elaboração de
políticas públicas.
Confrontado por seu
amigo pessoal
(confidência
revelada ao longo do
episódio) e nosso
colega Márcio
Macedo, o professor
perde o humor e
sugere que o colega
teria distorcido sua
fala. Ao contrário
de tudo que ouvi no
episódio, o colega
Márcio foi
absolutamente fiel à
fala do nobre
professor, a qual
buscou ponderar com
fatos históricos do
BNDES e
considerações sobre
a operacionalização
de políticas
públicas.
Das diversas ilações
do citado professor,
duas me chamaram a
atenção pelo
exotismo e pelo
potencial impacto
que pode ter sobre a
imagem da nossa
instituição: (1) que
o apoio do BNDES ao
setor de proteína
animal seria
responsável pela
aceleração do
desmatamento que
assistimos nos dias
de hoje; (2) que o
financiamento das
hidrelétricas
recentemente
construídas na
Região Norte do
Brasil era “um dos
episódios mais
lamentáveis da
história do BNDES”.
A primeira ilação me
parece controversa,
e conecta
injustamente o BNDES
a uma tragédia em
curso. Conforme
comentado pelo
economista Luiz
Carlos Mendonça de
Barros, o apoio do
BNDES ao setor de
proteína animal foi
parte de uma longa
política visando a
profissionalização
da cadeia da carne,
gerando maior
retenção do valor
agregado e elevação
dos padrões
sanitários dos
frigoríficos e de
sanidade animal.
Adicionalmente,
parcela relevante do
apoio mais recente
do BNDES foi voltada
à
internacionalização
dessas empresas para
atuarem em mercados
de países
desenvolvidos, como
Estados Unidos e
Austrália – países
que se encontram
afastados da
controvérsia recente
do desmatamento. Não
custa lembrar que
entre 2005 e 2015,
contemporâneo às
operações de crédito
e participações, o
desmatamento na
Amazônia Legal caiu
de 27 mil Km2
para 5,2 mil km2,
demonstrando que
políticas produtivas
e consorciadas com
políticas ambientais
produzem resultados
expressivos. Apenas
após a intervenção
do colega benedense
é que o professor
atenuou seu
comentário,
reconhecendo a
necessidade de que
as políticas de
crédito agrícola
sejam aperfeiçoadas
– algo que
transcende em muito
o BNDES.
A segunda ilação
está relacionada aos
projetos
hidrelétricos do
Madeira, cuja
aprovação deveria
ser considerada
motivo de “vergonha”
para a instituição.
Me parece
surpreendente que se
exija que o BNDES
não tivesse
financiado um
projeto de energia
renovável,
compatível com suas
políticas
operacionais,
previsto no
planejamento do
governo federal,
licenciado pelo
órgão competente,
com diversas medidas
de mitigação e
compensação
aprovadas pelos
órgãos anuentes e de
licenciamento.
A generalização,
frases de efeito do
professor, ainda que
atraiam o aplauso
fácil, pouco
iluminam o debate
público. Ao
contrário, servem de
combustível a
críticas e a
procedimentos
apuratórios movidos
contra funcionários,
que a própria
Associação tem
recorrentemente
denunciado como
injustos.
Acredito que o bom
debate sobre os
objetivos e
externalidades das
políticas públicas
devam ser sempre bem
recebidos por esse
corpo funcional,
como fonte de
aprendizado e como
elemento de
transparência de
nossa instituição.
Contudo, as falas do
citado professor não
constituem um bom
exemplo desse
objetivo. |