(A segunda parte do
relato sobre a
negociação do ACT
2020, “O fim de uma
negociação surreal”,
fica para a próxima
edição)
As
Associações de
Funcionários do
Sistema BNDES
apelaram aos
empregados e a
resposta veio.
Na negociação do ACT
2018
foram
encaminhadas aos
Sindicatos de
Bancários
mais de 600 cartas
em
oposição
ao pagamento da
contribuição
negocial.
Desta
vez foram apenas 132.
Uma primeira
evidência do erro
estratégico da
administração no ACT:
tentaram dividir
Associações e
Sindicatos e o
resultado foi o
contrário – união
inédita das
entidades em defesa
do BNDES e seu corpo
funcional.
Tem gente que ainda
não entendeu nada.
Há quatro anos e
meio os empregados
do BNDES vêm
passando por todo
tipo de desafio
– incluindo o questionamento
de suas carreiras e
do papel do Banco.
Havia
algumas visões
alternativas sobre
como responder
a
esse momento
histórico.
Alguns diziam que
esse processo era
como
fogaréu,
como
um incêndio
na floresta.
Tínhamos que nos
resignar, esperar o
fogo baixar. E isso
era tudo.
Outros diziam –
de forma consoante
– que tínhamos
perdido a batalha da
opinião pública
e precisávamos
passivamente nos
acomodar a qualquer
administração que
sinalizasse “gostar”
do Banco.
Tivemos também os
que passaram a
endossar as críticas
de fora quase que
por completo num
esforço de se
reposicionarem nas
novas
administrações.
Pois a
atual diretoria da
AFBNDES é produto de
outra
resposta.
Somos a expressão
política dos que
entenderam que não
era digno ficar de
braços cruzados
assistindo uma
instituição da
importância do Banco
virar a
“Geni nacional”.
Sabíamos que o Banco
não podia virar alvo
de crítica
superficial,
desfocada e, muitas
vezes, mal
informada,
mal intencionada
e irresponsável, sem
que seus empregados
contassem sua versão
da história.
Não há contradição
entre essa atitude e
a convicção de que o
Banco precisa,
é claro,
ser analisado
e criticado. Aonde
necessário,
criticado duramente.
Mas percebemos que a
campanha em curso
era de
destruição. E pior,
promovida
por gente que nunca
ajudou o país,
agentes do sistema
financeiro,
especuladores,
rentistas que
enriqueceram com
taxa de juros por
décadas entre as
mais altas do mundo,
bem como por seus
intelectuais
orgânicos.
Não tínhamos a
legitimidade da
hierarquia da Casa.
Mas contávamos com a
estrutura de uma
instituição rica em
tradição, com alguma
estrutura, mas que
estava num momento
grave de
desorganização.
Levantamos nossa voz
em protesto e ela
ecoou
em
uma parcela
fundamental dos
empregados do Banco,
talvez os mais
conectados com a
instituição, os mais
conscientes, ao
mesmo tempo, da
ameaça concreta que
pairava sobre ela e
da importância do
BNDES para o Brasil.
Disputamos as
críticas que
circulavam
internamente, no
Congresso, na mídia,
na sociedade como um
todo. Procuramos
mostrar a
fragilidade da
crítica dominante ao
BNDES.
Em retrospecto, toda
experiência até a
gestão Montezano
parece que foi
apenas
um treinamento
para enfrentar a
batalha de verdade.
Só os que fecham os
olhos e tapam os
ouvidos podem dizer
que não estão
encolhendo,
atrofiando o BNDES.
O desmonte é
explícito, mal
disfarçado. Bem ao
estilo do governo
federal, os
responsáveis pelas
decisões mais
importantes falam
qualquer coisa. A
escolha estratégica
fundamental dos que
sabem o que está
sendo feito
foi
colocar à frente do
processo pessoas que
não têm
a menor dimensão do
que estão fazendo.
Seguem algum chavão
ou palavra de ordem
do ministro Guedes e
nada mais.
Outro aspecto da
batalha colocada
pela atual
administração foi a
disposição de partir
para o conflito com
os técnicos do
Banco. Executivos
mais experientes e
reconhecidos na Casa
foram confrontados e
destituídos.
A AFBNDES levantou
sua voz denunciando
o desmonte, a falta
de consistência, a
falta de respeito
aos empregados e até
mesmo à
institucionalidade
do Banco –
e a resposta veio
com toda
a
força
na negociação do
último
ACT.
Tentaram nos
liquidar,
acabar com
nossa organização
associativa e
com
a proteção à
autonomia técnica do
corpo funcional.
Será que já se deram
conta do quanto
fracassaram no seu
intuito?
Os empregados do
BNDES não se
intimidaram com
ameaças. Os que
foram alçados a
altas posições na
burocracia,
recrutados
estritamente por sua
obediência,
mostraram que não
possuem liderança e
não conhecem o
sentimento dos
empregados. A
diretoria perdeu
porque sofre de
alienação profunda
sobre a instituição
que dirige.
Compreende tão pouco
a instituição e sua
história que enxerga
no orgulho de
pertencimento
ao
BNDES
–
visto por estudiosos
e outras diretorias
como um sinal de
força institucional
–,
apenas, para usar
uma metáfora, mais
um portão fechado a
ser derrubado.
Como o “ato falho”
(expressão
freudiana) revelado
no vídeo do
presidente Montezano
mostrou,
os
empregados são
vistos como
“depoentes”,
sujeitos cujas
manifestações devem
ser analisadas
com
distanciamento
e suspeita pelo
corpo dirigente da
instituição.
A resistência, a
união e a
mobilização que nos
deram potência na
negociação do ACT de
2020, as vitórias
nas ações judiciais
relacionadas à
incorporação da
gratificação de
função e a
reintegração de
Gustavo “Madureira”
aos quadros do Banco
são apenas os
primeiros triunfos
dos funcionários
organizados do BNDES
no embate com essa
administração.
Quem sabe os
depoimentos
recolhidos na
pesquisa de clima
levem à
administração
perceber o equívoco
do caminho que
resolveu seguir. Da
nossa parte, como
fizemos em todas
as
outras
administrações do
BNDES e da FAPES,
estaremos sempre
abertos ao diálogo
franco e em prol do
país e do BNDES.
Acordo da
Participação nos
Resultados
Fechamos
com o Banco, na
tarde desta
sexta-feira (18), a
proposta do Acordo
da PLR.
Um único ponto de
divergência
havia surgido.
Na contramão
da Convenção
Coletiva Nacional
dos Bancários,
firmada com a
Fenaban,
a administração
tentou introduzir
uma regra que
excluía empregados
afastados
por licença doença
da obtenção da
Participação nos
Lucros ou
Resultados.
A regra
apresentada na
negociação deste ano
estipulava uma
escala de
progressiva redução
da porcentagem a ser
recebida, dependendo
da quantidade de
dias de afastamento.
A regra prevalecente
em todos
os
outros bancos é
a
de que basta
um dia de trabalho
no ano de aferição
da PLR
para que o empregado
tenha
direito à
sua integralidade.
Ora, depois de todo
o discurso de seguir
Fenaban, de
fortalecer a atuação
dos sindicatos nas
negociações,
a administração
propõe regras que
ninguém segue no
mundo negocial
bancário. Cadê a
coerência dessa
estratégia?
Associações de
Funcionários,
Contraf e Sindicato
dos Bancários
se uniram na defesa
da regra geral dos
bancos,
presente da
Convenção Coletiva
da categoria,
e a administração
do Sistema BNDES
acabou recuando.
Melhor assim.
Convocamos todos a
aprovar na próxima
semana o Acordo. |