Muitos assistiram
aliviados ao anúncio
da campanha BNDES
Aberto pelo
presidente Gustavo
Montezano e os
gerentes da Área de
Comunicação. O
presidente está
visivelmente
empolgado com sua
posição de principal
dirigente do BNDES.
Não se pode ter
dúvida de que tal
entusiasmo é genuíno
e que, até certo
ponto, ou para certo
público, ele pode
ser contagiante.
Durante sua
apresentação houve
uma grande
demonstração de
confiança no futuro
do Banco. A
confiança é tão
grande que, às
vezes, pode ser
confundida com certo
grau de
deslumbramento. Como
no momento em que
Montezano relata
que, do BID ao
Ministério do Meio
Ambiente, há uma
expectativa de que
ele e o BNDES possam
resolver os
problemas.
A peça publicitária
da campanha segue o
formato das
anteriores: defende
o BNDES em termos
bem genéricos,
talvez com um tom
maior de
autocrítica, falando
da "abertura" como
algo novo. A
mensagem é bem
positiva.
Possivelmente o
maior acerto tenha
sido evitar qualquer
referência à "caixa-preta".
Ainda é necessário
ter cautela e
examinar o que virá
depois, nos filmes
focados em questões
específicas. Correm
notícias, por
exemplo, de que um
senhor da nova
equipe tem como
função catar
assuntos
"controversos" para
preencher a agenda
da abertura da
"caixa-preta"…
Algo sinistro.
Como um todo, esse
quadro pode parecer
distante das
previsões mais
negativas a respeito
do mandato do atual
presidente,
claramente temidas
pela AFBNDES. Será
isso mesmo?
É preciso, no
entanto, sobriedade
na análise. Há um
lado muito obscuro
no discurso de
Montezano. Sua
repetição de que não
devemos depender de
recursos do governo
federal – que foram
desdenhados como
mera "mesada",
recursos que
necessitam ir para
outras finalidades
supostamente mais
importantes etc. –,
de que, portanto,
não devemos defender
em Brasília a
manutenção de tais
recursos e repasses.
É, seguramente, a
reverberação interna
das ordens recebidas
dos chefes em
Brasília. A magia de
Montezano é esconder
a absoluta
subserviência em
relação ao governo
federal
(declaradamente,
escancaradamente,
anti-BNDES) por trás
de uma retórica de
compromisso com o
Banco e seus
empregados.
Paulo Rabello de
Castro, Dyogo
Oliveira e Joaquim
Levy entraram em
confronto com
Brasília sobre
devolução de
recursos e
manutenção das
condições de
competitividade para
o Banco. Montezano
representa um
rompimento. As
perguntas que têm
que ser feitas são:
em nome do quê? Com
base no quê? Nada
poderia ser mais
vago. Seu discurso é
tão vago que em
determinado momento
ele mesmo admite que
o que fala pode
parecer "maluco".
Não entendemos
assim: a
descontração foi
muito longe no
comentário
autodepreciativo.
Não é maluco. É
vago, é pouco
estudado, é
voluntarista. E,
acima de tudo, não é
responsável conduzir
o Banco dessa forma,
com esse grau de
improviso.
O recente
encantamento com
outros bancos de
desenvolvimento
deveria vir
acompanhado do
entendimento de que
todas essas
instituições são por
construção dotadas
de recursos em
condições especiais.
As formas variam de
país para país. Mas
essa é a lógica que
fundamenta as
instituições de
desenvolvimento. O
BNDES já abriu mão,
sem contrapartidas,
de sua taxa
subsidiada. Já
devolveu centenas de
bilhões de reais num
prazo inacreditável.
Ainda estamos sob
ameaça de uma
verdadeira
liquidação da
carteira da BNDESPAR
– agora, talvez e
lamentavelmente, com
a anuência dos
superintendentes.
Enquanto isso, o
Ministério da
Economia não desiste
de acabar mesmo com
os repasses
constitucionais que
vêm para o Banco,
como mostra a
tentativa de
aprovação da MP 889,
com a exclusão de
todas as emendas
feitas para proteger
o funding do
BNDES
(VÍNCULO 1357, de
08/08/2019).
O que está sendo
proposto para o
BNDES é uma aventura
de consequências
desastrosas. Não é
hora de se render a
wishfull-thinking.
É preciso confrontar
as fantasias à
realidade. O núcleo
técnico da Casa tem
mais do que nunca a
responsabilidade de
constranger as
propostas de
desmando com
conhecimento,
argumento técnico e
informação. Com
coragem – como já
foram dados exemplos
brilhantes – e
consciência de que o
Banco está acima de
cargos pessoais.
A AFBNDES continuará
onde esteve nos
últimos anos: na
resistência ao
desmonte do BNDES.
Esta continua sendo
a prioridade máxima.
Não podemos olhar
para trás e achar
que foi com a nossa
cumplicidade que
tudo aconteceu. Não
percamos de vista
que o desastre
econômico gerado
pela atual equipe
econômica não pode
durar
indefinidamente.
Eles sabem disso e
se apressam na
tentativa de impor
sua agenda
antipatriótica na
plenitude. Uma
peça-chave dessa
reforma é a
destruição do BNDES.
Vamos acordar,
benedense!