Na volta de viagem a
Brasília, ontem à
noite, encontrei
dois políticos
cariocas no ônibus
do aeroporto Santos
Dumont. Ambos de
esquerda. Dois
deputados federais.
Os dois estavam
conversando e os
saudei. Introduzi o
tema do BNDES.
Afirmei que estava
comprovado que o
Ministério da
Economia queria
acabar com o Banco.
Parênteses: "Acabar"
é vago, mas também é
vago o que
exatamente se quer
fazer. Deve-se
entender por
"acabar" uma faixa
de possíveis
destinos ao BNDES
que vão desde se
tornar uma tímida
agência de
investimento até a
sua completa
extinção.
Voltando à conversa,
um dos deputados
reagiu com
incredulidade, não
por desconfiança do
interlocutor, pelo
menos assim me
pareceu, mas pelo
absurdo do que
estava sendo
afirmado. O outro
reagiu com tédio,
como se eu tivesse
dito algo óbvio, de
amplo conhecimento
para pessoas bem
informadas.
Talvez as reações
dos dois políticos
de visão ideológica
não tão distantes
sejam
representativas das
reações que se
seguirão à leitura
desse meu breve
relato. Digo para
todos vocês com
todas as letras:
o atual Ministério
da Economia quer
acabar com o BNDES.
Espero que quando
esta edição do
VÍNCULO chegue às
suas mãos você já
tenha assistido ao
vídeo do deputado
Pedro Paulo nos
tranquilizando,
afirmando que os
líderes partidários
discordam da
inclusão na reforma
da Previdência do
item de eliminação
das transferências
constitucionais do
FAT para o Banco. É
significativa uma
declaração tão forte
de um político tão
próximo ao
presidente da Câmara
dos Deputados,
Rodrigo Maia.
Mas está muito cedo
para ficar
tranquilo. Arma-se
uma reação, liderada
pelo Ministério da
Economia, para
garantir que a
proposta da reforma
sangre o BNDES em
alguma medida. Está
mais claro do que
nunca. A polêmica
criada pelas
críticas do ministro
Paulo Guedes à
proposta do relator
da reforma da
Previdência,
especificamente
dirigida à inclusão
do fim dos repasses
do FAT para o BNDES
e ao aumento da
tributação dos
bancos, deu a
impressão de que
tais ideias eram
puro produto da
criatividade e
pró-atividade de
deputados e do
relator. Cortina de
fumaça.
Depois de acompanhar
o esforço de
convencimento do
relator, posso
certificar a todos
que o objetivo da
proposta não é o de
aumentar recursos
para a Previ-dência.
Seu objetivo
principal é fazer
sangrar o BNDES.
Tal proposta não é o
resultado de um
compromisso com o
número mágico de 1
trilhão de reais
defendido pelo
ministro da Economia
(que não faz sentido
ser perseguido com a
queda da proposta de
capitalização).
Posso garantir que o
governo e o relator
não estão
preocupados com as
contas públicas. Não
estão interessados,
por exemplo, com o
impacto do fim dos
repasses ou sua
redução para o
seguro-desemprego.
Não querem discutir,
convencer ou
contestar ninguém
nessa área. Os
pragmáticos do
governo querem
angariar votos para
a reforma da
Previdência surfando
nos "haters" do
BNDES no Congresso
Nacional
O relator não abre
mão de fazer o BNDES
pagar. O Banco tem
que ser punido
"depois de tudo" (me
falou um assessor).
Tudo o quê?
Perguntei. Apontam
para a CPI. A mesma
tática foi usada na
mudança para a TLP.
Os supostos crimes
do BNDES fundamentam
sua vilipendiação e
seu desmonte.
O país está no
quinto ano de ruína
e conspira-se para
destruir o mecanismo
mais importante que
o próprio governo
dispõe para
estimular o
investimento.
Qual a diferença
mesmo entre a ala
ideológica e a
liberal do governo?
Ora, as duas são
extremamente
ideológicas. Ambas
chegam ao ponto do
fanatismo. Acabar
com o BNDES em nome
da conspiração do
"Foro de São Paulo"
ou acabar com o
BNDES em nome de von
Mises são loucuras.
Difícil apontar a
mais irreversível.
A defesa do Banco
passa, mais do que
nunca, por nossa
mobilização. Pela
disputa da opinião
pública. Se eles
estivessem tão
certos de que os
brasileiros querem
liquidar com seu
Banco de
Desenvolvimento, não
agiriam nas sombras
como fazem. A
covardia do ataque é
sinal da falta de
apoio que têm.
Chamemos a luz,
mostremos nossas
realizações. Podemos
mais, vamos fazer
mais, porém temos
muito o que expor.
E eles? O que eles
têm a apresentar? O
que esses
economistas ligados
ao oligopólio
financeiro
brasileiro
construíram ao longo
dos últimos trinta
anos em que tiveram
ampla hegemonia?
Quantos
investimentos no
Brasil foram movidos
com base em seus
desembolsos?
Trava-se em torno do
BNDES uma das
batalhas mais
importantes para o
futuro do Brasil.
Meus colegas
benedenses, não
tentem ignorar esse
fato, para ficar
mais fácil não
assumir
responsabilidade.