A fundação do Clube
de Engenharia
precede em algumas
décadas à criação do
BNDES. Deu-se em
1880, passados
apenas seis anos da
primeira turma
formada na Escola
Central de
Engenharia (Escola
Politécnica). Na
ocasião, o Brasil
era imensa fazenda
exportadora, sem
qualquer setor
manufatureiro
importante.
Na capital, no
porto, onde se
obtinham notícias do
vigor industrial nos
EUA e na Alemanha à
época, os
engenheiros, alguns
deles industriais,
gozavam de prestígio
junto ao imperador.
O Clube de
Engenharia foi,
desde a origem,
ambiente de debate
qualificado para
sistematização de
propostas e
projetos, com vistas
ao exercício de
políticas públicas
desenvolvimentistas.
A partir de 1882, o
Clube de Engenharia
recebeu do governo
federal a atribuição
de apreciar
investimentos
públicos e privados
em infraestrutura
(estradas de ferro,
instalações
portuárias e
outras). Não havia
no início do século
XX competência em
planejamento e
análise de
empreendimentos no
setor público e, com
isso, coube ao Clube
zelar pelo esforço
de nacionalização em
serviços de
manutenção e
operação de ativos
de infraestrutura,
principalmente.
Em 1887 foi
publicado o primeiro
número da Revista
do Clube de
Engenharia, onde
se destacavam
pareceres sobre o
saneamento da lagoa
Rodrigo de Freitas e
o abastecimento de
água do Rio de
Janeiro. Dois anos
depois, o engenheiro
Paulo de Frontin
resolveu, em apenas
seis dias de obras,
o crônico
desabastecimento de
água potável na
Capital.
Em 1900, o Clube
promoveu o I
Congresso de
Engenharia e
Indústria. A
situação financeira
da indústria
brasileira à época
era crítica. As
tentativas do
governo federal em
promover o
desenvolvimento do
país através do
fortalecimento dos
mercados de capitais
havia recém
fracassado
(encilhamento).
A reação veio do
Clube de Engenharia,
que encaminhou
conjunto de
propostas para
problemas de
transporte
(ampliação da rede
ferroviária,
reorganização do
Lloyd, organização
das Companhias das
Docas e realização
de obras no porto do
Rio de Janeiro),
posteriormente
implementados pelo
governo federal.
Na ocasião, os
engenheiros e
industriais trataram
ainda de moléstias
contagiosas na
capital federal,
propondo-se
construção de rede
de esgotos,
calçamento em ruas e
canalização de águas
como estratégia em
saúde pública.
Em 1904, o
ex-presidente do
Clube, Engenheiro
Pereira Passos,
tornou-se prefeito
do Rio de Janeiro e
iniciou processo de
transformação urbana
de grandes
proporções,
inspirado em grande
medida em trabalhos
e debates realizados
no Clube de
Engenharia [Cury
(2000)].
O Plano de Viação
Geral da República
(1890), as
discussões em torno
do traçado da
Estrada de Ferro
Madeira-Mamoré
(1904) e o projeto O
Valle do Amazonas
e suas comunicações
telegraphicas
(1905) comprovam a
importância da
atuação dos dublês
de engenheiros e
industriais na
integração do
território
brasileiro e na
consolidação do
Estado republicano.
Durante a década de
1930, o recorrente
estrangulamento
externo mostrou,
mesmo para o topo da
elite
liberal-conservadora
(banqueiros e
latifundiários), que
as políticas
liberais deveriam
ser revistas.
Prevaleceu durante a
crise a ideia-chave
de que o país
deveria seguir
adiante com o
esforço de criação
de mercados de
trabalho/consumo. As
porções mais pobres
do país,
constituídas
majoritariamente por
ex-escravos,
acumulavam-se na
periferia das
cidades, somando-se
à época três décadas
de fracasso liberal.
Os engenheiros
reunidos no Clube
rapidamente
perceberam, contudo,
que o sonho
civilizatório não
poderia prescindir
da ocupação política
do Estado
brasileiro. A partir
de 1930, através do
fortalecimento das
instituições
públicas nos anos
Vargas, tornou-se
então possível fazer
a inflexão no debate
em favor de um
projeto de país.
Sobre as derrotadas
teses
fiscalistas/privatistas
prevaleceram
propostas para
vigorosa expansão em
investimentos
públicos em
infraestrutura – eis
a origem da
supremacia
tecnológica
brasileira em
construção civil
pesada. As mal
compreendidas
empreiteiras
brasileiras
protagonizaram o
início da integração
inacabada do
território.
Apenas na década de
1930, o Clube
participou dos
debates para
a construção do
aeroporto Santos
Dumont,
eletrificação da
Estrada de Ferro
Central-Piraí e
construção da
adutora de Ribeirão
das Lajes.
Contribuiu também na
elaboração do Código
de Águas, do Código
de Minas e em
estudos para o
aproveitamento do
carvão nacional.
Em 1946, o Clube
promoveu o II
Congresso Brasileiro
de Engenharia e
Indústria. Neste
colocou-se ênfase na
atividade de
planejamento,
propondo-se a
criação de ente
público que
coordenasse os
estudos sobre a
estrutura, os
recursos e as
condições gerais do
Brasil. Procurou-se
ainda garantir a
execução de obras de
engenharia de grande
envergadura com
profissionais
brasileiros.
Conforme resolução
de subscrição
consensual à época,
o trabalho de
profissionais
estrangeiros só
deveria ser efetuado
com supervi-são de
técnicos nacionais.
Pouco tempo depois,
já no segundo
mandato do
presidente G.
Vargas, foi criado o
BNDES (1952) com
funções
complementares
àquelas
desempenhadas pelo
Clube de Engenharia
até então, porém
potencializado por
acesso a recursos
compatíveis com o
investimento de
longo prazo no país.
Desde sua origem, o
BNDES tem se
envolvido
progressivamente nos
grandes problemas
nacionais, com
propostas ousadas e
chamando para si a
responsabilidade
pelo encaminhamento
das soluções.
Com mais ênfase a
partir de 2016, o
Banco passou,
contudo, a
redirecionar
estrutura e
estratégia para
ampliação de acesso
ao crédito de longo
prazo não subsidiado
a pequenas e médias
empresas. Este
caminho único parece
distanciar o Banco
da posição de
outrora, no qual
direcionou massas de
investimento
coordenado a setores
dinâmicos da
economia. Ao
contrário, a atuação
do BNDES como
Fintech parece
circunscrever-se a
aspectos ligados à
análise de crédito,
taxas de juros e
garantias.
Este ambiente não
favorece o debate e
o envolvimento dos
funcionários nas
grandes questões
nacionais. Como
coordenar processo
de planejamento com
entes subnacionais
de maneira a
aumentar a qualidade
dos projetos de
infraestrutura
urbana no país? Como
universalizar os
serviços públicos e
induzir melhorias de
eficiência e
qualidade? Como
induzir o aumento de
conteúdo nacional
nos investimentos em
infraestrutura? Em
quais
setores/tecnologias?
Em que territórios?
Quais os requisitos
para o
desenvolvimento
sustentável? Para
quem e como devem se
estabelecer
compensações e
contrapartidas para
o investimento em
infraestrutura?
Respostas
convincentes não são
esperadas do "setor
privado", nem
tampouco de pequenas
e médias empresas.
Aproximando-se das
eleições de 2018 o
Clube de Engenharia
se coloca como
instituição-chave
para a retomada do
debate sobre o
desenvolvimento
brasileiro.
Para isso, não
apenas os
engenheiros do BNDES
podem e devem se
associar ao Clube de
Engenharia, mas
também colegas
economistas,
contadores,
advogados,
administradores etc., serão
igualmente bem
recebidos nos
debates promovidos
por lá.
Para quem não sabe,
ao menos três
colegas benedenses
se encontram ligados
ao Clube hoje,
oferecendo-se como
referência para os
interessados –
Sebastião Soares,
José Eduardo Pessoa
de Andrade e Nelson
Duplat. Sem falar no
ex-presidente Marcio
Fortes.