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Porque o Petróleo tem
que ser nosso
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Gustavo Galvão (*), Hélio Pires (**) e Rogério Lessa (***) |
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(*) Economista do BNDES, (**) Economista aposentado do BNDES, (***) Jornalista |
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"O pré-sal é o
nosso passaporte
para o futuro e
entregá-lo é jogar
dinheiro fora. O
país precisa desse
recurso" –
candidata Dilma
Rousseff, no 2º
turno da eleição
para presidente, em
2010.
A Grande Crise
O dia 16 de setembro
de 2013 marcou
exatos cinco anos da
maior crise mundial
desde 1929, que teve
como estopim a
quebra do banco de
investimentos Lehman
Brothers, levando
praticamente todos
os países a
amargarem sensível
redução de
crescimento.
O Brasil, se crescer
2,5% em 2013, como
espera o governo
(previsões do
mercado indicam 2%),
terá apresentado
neste período a
mesma média de 2,7%
a.a. verificada nos
últimos 30 anos.
Nesse contexto,
contrasta o
desempenho da China,
que a exemplo de
Japão e Coreia do
Sul, adotou
políticas soberanas
próprias, protegeu
sua indústria,
manteve rígidas
regras para
aceitação do capital
externo,
contrariando as
recomendações
ultraliberais
conhecidas como o
"Consenso de
Washington", segundo
a qual os países
deveriam ter mercado
aberto e Estado
mínimo – cortando
gastos e políticas
públicas – para
receber os capitais
dos investidores
mundiais e,
supostamente,
acelerar o
crescimento.
No entanto, enquanto
os chineses só
recentemente
desaceleraram seu
ritmo dos
tradicionais 10%
para cerca de 7%
a.a., Japão e
Coreia,
respectivamente a
partir de 1985
("Acordo do Hotel
Plaza", em New York)
e 1997, se
encantaram com os
"ares liberais" e
deixaram valorizar
suas moedas, pagando
alto preço por isso.
Já o Brasil, que
entre 2004 e 2008 se
beneficiara do
"boom" dos preços
das matérias primas
e alimentos,
denominadas de
"commodities", não
aproveitou o período
de superávit em
transações correntes
para mudar as regras
do jogo e praticar
políticas fiscais e
cambiais soberanas.
Agora que os preços
caíram e voltou a
dependência de
capitais externos
para fechar o
balanço de
pagamentos, seguimos
amargando
desindustrialização
e maus resultados em
nosso comércio
exterior.
Campeão abatido
pela falta do
Petróleo
Este desequilíbrio
externo brasileiro
não começou com a
última crise. Nosso
país, de 1932 até
1982, crescia à
velocidade média de
7% a.a. À época, só
o Japão "voava"
próximo. Entretanto,
com a subida do
preço do petróleo em
1973 – e nós não
tínhamos o "ouro
negro" – recorremos
mais fortemente ao
endividamento
externo para o
financiamento da
compra desse
recurso estratégico.
A subida dos juros
internacionais, em
1979, e a quebra do
México, em 1982, nos
obrigaram a recorrer
ao FMI, cuja
recomendação era
cortar gastos
públicos, reduzir
salários e, o pior,
aumentar os juros
internos. Resultado:
o Brasil, entre 1932
e 1982, cresceu 30
vezes (mais
precisamente 29,5
vezes) a sua
produção de bens e
serviços. Para
crescer 30 vezes a
sua produção atual
ao ritmo de 2,7%
a.a. precisaríamos
de 1,5 século
(exatos 146 anos).
Significa que se
tivesse petróleo e
não fosse obrigado a
se curvar aos
ditames do FMI, o
país manteria o
crescimento de 7%
a.a. e seu PIB de
2012 alcançaria
cerca de US$ 7
trilhões, em vez dos
atuais US$ 2,3
trilhões. Seria
menor do que o da
China, de US$ 8,2
trilhões, porém
maior do que o do
Japão, de US$ 6
trilhões.
Além disso, a
trajetória dos altos
juros internos nos
transformou num país
controverso: paraíso
dos grandes
aplicadores
financeiros
nacionais e
estrangeiros, e
campeão de
desigualdade social.
Assim, enquanto a
China se torna a
"fábrica do mundo",
produzindo para
grandes marcas, mas
também investindo em
Pesquisa e
Desenvolvimento
(P&D), o Brasil
retrocede, correndo
o risco de se
especializar na
produção de
"commodities" e se
tornar apenas a
"fazenda do mundo".
Para virar o jogo
Diante das agruras
da Grande Crise é
que nós brasileiros
temos que seguir o
exemplo dos países
vencedores, ou seja,
formular um Plano
Estratégico de
Desenvolvimento
autônomo e soberano.
Isto significa
determinar, ao longo
de um determinado
tempo, o resgate do
passivo social.
Significa
dimensionar,
levantar e atacar as
carências de nosso
desenvolvimento. O
simples trabalho na
construção de suas
próprias
necessidades físicas
e estruturais
garante ao
trabalhador menos
qualificado emprego
e renda, com reflexo
direto no
desenvolvimento
municipal e
regional.
Um segundo nível
desse resgate social
resultará no
fortalecimento dos
setores industrial e
comercial,
aproveitando o
enorme território e
recursos naturais,
sobretudo
energéticos
sustentáveis, em
detrimento do modelo
agrário-exportador.
Além disso, é
necessário prover
toda a logística dos
diversos modais de
transporte, que
provocaria um ciclo
de desenvolvimento
virtuoso,
alavancando a
integração comercial
e social com nossos
vizinhos na América
Latina, nosso
principal mercado
para produtos de
maior valor
agregado.
Sem essa estratégia,
estaremos fadados,
na nova divisão
internacional do
trabalho, a sermos
meros fornecedores
de "commodities" e
insumos de baixo
valor agregado, além
de continuarmos a
ser um bom local
para apostas
especulativas de
curto prazo e de
baixo risco.
Déficit externo,
o "Calcanhar de
Aquiles"
Ao enunciarmos um
Plano Estratégico de
Desenvolvimento,
temos que deixar
claro que o déficit
em transações
correntes é o
verdadeiro
"Calcanhar de
Aquiles". Um país,
principalmente em
desenvolvimento, não
quebra por dívida ou
por ter suas contas
deficitárias
internas em moeda
nacional. Mas fica
indefeso quando se
torna devedor no
exterior sem
reservas
internacionais e sem
financiador externo.
Um país só adquire
moeda externa de
forma sustentável no
médio prazo se tiver
saldo positivo ou
equilíbrio entre
suas exportações e
importações de
mercadorias e
serviços.
O resultado líquido
disso é o Saldo da
Conta de Transações
Correntes.O Risco
Soberano de um país
é fundamentalmente
expresso pelo saldo
dessa conta.
Novamente nos
encontramos em
alerta de Risco
Soberano. Desde
2009, os déficits em
Conta de Transações
Correntes foram:
US$24 bilhões, ou
1,5% do PIB (2009);
US$ 47 bilhões, ou
2,2% do PIB (2010);
US$52 bilhões, ou
2,1% do PIB (2011);
e US$ 54 bilhões, ou
2,4% do PIB (2012).
A previsão para
2013, conforme dados
do Boletim Focus do
BC, de 06-09-2013, é
de um déficit de US$
78 bilhões. Para
2014, US$ 79
bilhões.
No entanto, é
natural que surjam
algumas perguntas
clássicas a respeito
das nossas condições
internas:
1 - De onde virão os
recursos?
Recursos para o
desenvolvimento
interno o Brasil tem
de sobra: terra
abundante; trabalho
(bônus demográfico);
máquinas e
tecnologia
disponível (capital
físico e humano);
além de água
abundante (recurso
raro mundialmente,
mantenedor de vida e
produtor de
hidroeletricidade) e
exposição solar
ótima (produção de
recursos agrícolas,
biomassa,
biodiversidade).
E se alguém pensou
no real como meio de
pagamento,
esclarecemos que
diante de todas as
riquezas enumeradas,
o dinheiro, ou
melhor, moeda e
crédito, são apenas
a representação
convencional e
oficial (Moeda
Cartal – impresso na
Casa da Moeda) das
riquezas.
Então, o dinheiro é
questão de gestão
econômica
responsável,
fornecido pelas
autoridades
governamentais
(monetárias e
fiscais) de acordo
com a necessidade da
economia (ver
seriebndes\circulo\circulo2.htm,
tese antecipada por
nós, antes de 16 de
setembro e
coincidentemente
utilizada pelo
governo Lula, em
janeiro de 2009, nos
primeiros momentos
da crise).
Enquanto presidente
do BNDES (2003 a
2005), o grande
brasileiro Carlos
Lessa mostrou que
quando há atitude e
ação os recursos
aparecem. Mesmo com
orçamento limitado,
Lessa abriu linhas
de crédito para
financiamento à
Petrobras, reduzindo
seu custo de
financiamento. Sua
ação obrigou bancos
privados a reduzirem
os juros cobrados à
estatal petroleira.
Ainda como
presidente do BNDES,
ele comprou um lote
de ações da Vale do
Rio Doce que
recuperou o controle
acionário para o
Estado Brasileiro.
Como
"reconhecimento" por
suas atitudes, Lessa
perdeu seu cargo.
2 - Teremos que
aumentar impostos?
A carga tributária,
em torno de 35% do
PIB, está até
exagerada para o
baixo crescimento da
economia. Trinta
anos de baixo giro
econômico não gera
impostos, obrigando
as autoridades a
aumentarem as taxas
e até inventarem
novos impostos. Se o
PIB tivesse crescido
à taxa potencial dos
50 anos de
desenvolvimento
industrial e
alcançado patamares
acima do nível atual
e próximo aos US$ 7
trilhões,
seguramente a carga
tributária seria
menor em termos
percentuais e maior
em valores
absolutos.
3 - A dívida interna
elevada não limita o
investimento
público?
A dívida interna
brasileira tinha
inicialmente a
função de reduzir o
crescimento
econômico e produzir
excedentes para a
exportação. De fato,
em 1983, os juros
foram aumentados de
forma que os
capitais de giro dos
negócios tivessem
uma alternativa de
aplicação. Já os
trabalhadores
amargaram o
desemprego.
Mas este foi apenas
o início. A partir
daí o endividamento
do governo passou a
ser uma ótima
alternativa de
aplicação
restringindo o giro
da atividade
econômica. Nos
atuais patamares em
relação ao PIB, a
dívida não apresenta
restrições. Ela pode
ser reduzida
naturalmente, nos
vencimentos e sendo
administrada com
juros menores, para
desgosto dos agentes
financeiros.
4 - Reduzir os juros
não provoca
inflação?
Os 30 anos de
crescimento abaixo
do potencial criaram
naturalmente uma
capacidade produtiva
restrita que força
os preços subirem,
então existe sim uma
inflação reprimida
por conta da baixa
capacidade
produtiva. Por outro
lado, o baixo
crescimento formou
uma casta produtiva
concentrada e uma
parte relevante dela
por empresas
multinacionais que
têm poder para ditar
preços. Portanto só
o atendimento da
demanda reprimida
pelo aumento da
oferta poderá fazer
que os preços se
acomodem no médio
prazo.
5 - Uma subida do
dólar não poderá
provocar inflação?
Sim, a política de
juros elevados, por
tanto tempo, e
nenhum controle de
entrada de capitais
de curto prazo,
valorizaram
artificialmente
nossa moeda de forma
a provocar o
atendimento da
demanda por produção
externa. Isso
provocou um processo
de
desindustrialização
que acaba
desestimulando
nossas exportações.
Portanto, existe uma
inflação reprimida
que será liberada
quando o câmbio se
corrigir, mas
infelizmente é uma
das correções a
serem feitas por
conta da
artificialidade dos
juros mantidos acima
do razoável.
Dilma, cancele o
leilão de Libra!
O petróleo continua
a ser o primeiro
produto em
importância
estratégica, e tão
fundamental que sem
ele não se movem os
próprios exércitos
que lutam pela sua
conquista.
Se o choque do
petróleo, em 1973,
estourou a Conta de
Transações Correntes
do Brasil e tivemos
que recorrer a um
endividamento
externo que
explodiria em 1982,
a partir de 2007
passamos a contar
com o pré-sal, um
megacampo a 7 mil
metros de
profundidade que
pode variar de 30
bilhões, 100 bilhões
a até 300 bilhões de
barris de petróleo.
Já em 1974 a
Petrobras começou a
descobrir petróleo,
no poço de Namorado,
na plataforma
marítima, em Campos,
e começa a
exploração em mar
aberto. Em fins de
1984, a estatal
brasileira do
petróleo anunciava a
produção de 500 mil
barris, antecipando
em um ano aquela
meta. A partir de
1985, a Petrobras
continua suas
descobertas em
lâminas d’água cada
vez mais profundas
até que, em 2006,
atingimos a
autossuficiência.
Hoje, com o pré-sal,
é evidente que
despertamos a cobiça
do mundo. Além do
combustível, o
petróleo ainda é o
insumo mais viável
para mais de 3 mil
produtos, em várias
áreas de consumo.
Somado aos 14
bilhões de barris
que o Brasil possui
em reservas, o
pré-sal já tem
garantidos outros 60
bilhões de barris,
que – segundo
Fernando Siqueira,
vice-presidente da
Associação dos
Engenheiros da
Petrobras – AEPET,
um brasileiro
incansável pela luta
de nosso petróleo
para os brasileiros
–, nos garantem
autossuficiência
para mais de 50
anos.
Já Ildo Sauer, outro
nacionalista
ilustre, ex-diretor
da Petrobras,
defende
investimentos para
auferir com exatidão
o montante das
reservas do pré-sal,
que podem ser muito
maiores que as já
descobertas. No
entanto, mesmo
trabalhando com os
números já
confirmados, o
déficit em conta
corrente pode ser
financiado por pelo
menos duas décadas,
garantindo um
crescimento
sustentado, em ritmo
acelerado, que pode
chegar até próximo
aos padrões
chineses, em torno
de 7% a.a.
Considerando, por
hipótese, que haverá
déficits em todos os
20 anos do período,
que o preço do
barril permaneça
fixo, em US$ 100, e
partindo do déficit
em transações
correntes de US$ 80
bilhões, projetados
para 2014, o déficit
de Transações
Correntes crescendo
a 10% a. a.
atingirá, em média,
US$ 229 bilhões/ ano
ou um "déficit"
acumulado de US$ 4,6
trilhões no período
de 20 anos – esse
valor exagerado
inclui todos os bens
importados ainda
necessários ao nosso
desenvolvimento.
Já a reserva líquida
(após retirada a
necessidade de
consumo interno,
crescendo a 10% a.a.),
em petróleo cru –
sem nenhum
beneficiamento
–, distribuída pelos
20 anos, resulta na
média de US$ 235
bilhões. Por tudo
isso, temos razões
de sobra para
concluir que o
pré-sal da Petrobras
pode blindar a Conta
de Transações
Correntes e
financiar um Plano
Estratégico de
Desenvolvimento.
Significa, ainda,
seguindo os
preceitos das
Finanças Funcionais,
reduzir nossa taxa
de juros totalmente
desnecessária, que
provoca uma
disfuncional
apreciação do real.
Deveríamos, também,
impor controles aos
capitais de curto
prazo. A aceitação
do investimento
estrangeiro poderia
ficar restrita
apenas aos que
trouxessem
efetivamente
inovação de última
geração e, mesmo
assim, com total
repasse da
tecnologia – como
exige a China e
exigiriam, na
consolidação dos
seus
desenvolvimentos, o
Japão e a Coreia do
Sul.
A má notícia
Todo o potencial
projetado se desfaz
quando se tira o
Poço de Libra que é,
por direito natural,
da Petrobras, que o
achou, e também por
direito comercial,
já que o pagou como
cessão onerosa em
seu último aumento
de capital. Não é
possível aceitar que
um único poço, que
com sua capacidade
de 15 bilhões de
barris dobra o
nível das reservas
brasileiras para 29
bilhões de barris,
seja colocado em
leilão.
Imaginem o que
aconteceria se todo
o pré-sal fosse
descoberto por uma
multinacional do
setor e que o
governo brasileiro,
por direito
constitucional,
desapropriasse, em
nome da nação
brasileira, e
indenizasse a
multinacional em
reais.
Entendemos que
qualquer invento
inovador tem pelo
menos 20 anos de
direito
internacional de
patente para a
empresa que o
desenvolveu. Então,
acreditamos, até por
analogia, que todo o
petróleo do pré-sal
tem que ser
explorado, por
mérito, pela
Petrobras.
Aceitaríamos, no
limite, a
contratação de
serviços pela
Petrobras de
empresas nacionais e
ou internacionais,
de acordo com a
necessidade, para
ajudar no processo,
como ocorre hoje.
Iniciativas para
suspender o leilão
já existem. Os
senadores Pedro
Simon (PMDB-RS),
Randolfe Rodrigues (PSOL-AP)
e Roberto Requião
(PMDB-PR)
apresentaram Projeto
de Decreto
Legislativo para
sustar o edital do
leilão do Campo de
Libra, sob
justificativa de que
a Petrobras teria
sido alvo de
espionagem do
governo
norte-americano e em
supostas
irregularidades no
leilão, marcado para
o dia 21 de outubro.
Já o ex-diretor de
Exploração e
Produção da
Petrobras, Guilherme Estrella, sugere
devolver Libra à
Petrobras para
exploração,
preservando o
interesse nacional,
conforme determina o
art. 12 da Lei
12351/2010.
Aproveitamos a
oportunidade para
saudar os 60 anos da
nossa Petrobras,
comemorados no dia 3
de outubro.
Desejamos bastante
sucesso à empresa em
suas empreitadas!
_________________________
P.S. Para mais
informações, visite
o site:
www.desenvolvimentistas.com.br/blog/leilaodopetroleo/. |
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