Em 2017, o BNDES se
tornou uma espécie
de Geni no
imaginário popular
brasileiro, pois a
população, em geral,
é induzida a
acreditar que o
BNDES é uma
instituição
prejudicial ao país.
É notório que falta
uma discussão, em
âmbito nacional,
aprofundada, sobre o
sentido do
desenvolvimento
econômico brasileiro
e o papel do BNDES.
O "senso comum"
desinformado sobre
economia, geral e
brasileira, leva a
uma visão distorcida
sobre o BNDES e os
Bancos de
Desenvolvimento.
Mas essa construção
do imaginário e da
opinião pública
brasileira sobre o
Banco é fluída e
está em termos
concretos
fundamentada no
campo da disputa
política e de seus
interesses
econômicos
subjacentes. Que
podem mudar conforme
mudem também as
circunstâncias
políticas e a
conjuntura
econômica. E 2018 é
ano eleitoral. E
será um divisor de
águas em relação ao
futuro da
instituição e do
Brasil. A agenda do
atual governo não é
de desenvolvimento.
É uma agenda
anticrescimento,
antinacional e
antipopular. Provas
disso são o seu
altíssimo nível de
rejeição pela
população e os
(maus) resultados,
em termos de
crescimento e
geração de emprego,
da política
econômica tocada
pela Fazenda e pelo Bacen. Afinal, a
quem beneficia a
atual política
econômica?
O atual Ministro da
Fazenda, desde os
tempos de Bacen,
defendia a tese de
que a TJLP
prejudicava a
eficácia da política
monetária. Na
Fazenda, trabalhou
diuturnamente pela
sua extinção. Hoje,
é a partir da
Fazenda e do Bacen,
os representantes
oficiais dos
interesses do setor
financeiro privado,
brasileiro e
estrangeiro, que se
dá a "desconstrução"
do BNDES. Esse
processo ocorre hoje
por dois caminhos,
um externo e outro
interno.
O externo (e mais
perigoso) passa pelo
fim da TJLP (e sua
manutenção em níveis
estratosféricos
durante todo o ano
passado) e a criação
da TLP; pela
desidratação do
funding do Banco e
as ilegais
liquidações
antecipadas dos
empréstimos do
Tesouro Nacional; e
pela criminalização
da instituição e de
seus empregados que
funciona perante a
opinião pública como
um legitimador das
mudanças, que são
"vendidas" na mídia
como moralizadoras e
benéficas, e longe
de aperfeiçoarem as
"instituições
econômicas", estão
servindo na prática
para a
"desconstrução" do
BNDES enquanto Banco
de Desenvolvimento e
para o
aprofundamento da
crise brasileira.
A sanha persecutória
dos órgãos de
controle também está
contribuindo para a
paralisia da
instituição. O
ex-diretor de
compliance,
responsável pela
criação das
Comissões de
Apuração Interna,
que foi trazido pela
ex-presidente Maria
Silvia, deixou o
Banco, no meio do
ano passado, dizendo
que estava
trabalhando sob alto
nível de estresse,
pois o BNDES está
sendo, segundo ele,
perseguido pela
"ditadura dos órgãos
de controle". Além
disso, defendeu o
corpo técnico do
Banco como sendo
ético e
profissional. A
paralisia provocada
por essa cruzada
inquisitória emperra
o Banco e fortalece
posições
"antioperacionais",
que em nome da
"mitigação de
risco", vai aos
poucos
inviabilizando o
funcionamento da
instituição e
dificultando a
recuperação da
economia.
Internamente, as
diferenças dentro do
corpo funcional
estão se agravando
ao invés de estarem
sendo corrigidas. O
episódio da
incorporação dos
PECS, por exemplo,
foi desastroso. Foi
gerada enorme
expectativa e depois
veio o banho de água
fria sem dar a menor
satisfação aos
funcionários. A
"reestruturação
participativa" foi o
mais recente dos
eventos internos
desestabilizadores e
revela o quão
trágica é a
situação: mesmo um
tema que tinha
grande chance de ser
endereçado de forma
consensual, sem
celeuma e grande
dificuldade, foi
administrado de
maneira a gerar um
profundo mal-estar
na Casa e um grave
desalinhamento
dentro da
hierarquia. Questões
como a falta de um
plano de carreira, o
alto peso das
gratificações, os
critérios para
nomeação de
executivos e
promoções, e o
possível excesso de
cargos precisam ser
enfrentadas, mas não
de forma atropelada
e açodada, com tom
moralizador,
parecendo atender,
primordialmente, a
objetivos alheios às
boas práticas
organizacionais e/ou
a interesses
políticos.
As recentes
demissões na FAPES e
de funcionários
terceirizados do
Condomínio, que
causam danos e
transtornos aos que
perderam seus
empregos, trazem à
memória dos
benedenses o trauma
das demissões do
governo Collor e a
situação injusta dos
anistiados que ainda
não tiveram todos os
seus direitos
reconhecidos pela
Administração. Com
isso tudo a sensação
de insegurança entre
os funcionários só
aumenta. A última
pesquisa de clima
mostra que a
atmosfera continua
bastante
"carregada". O
exercício de
planejamento
estratégico provocou
uma importante
reflexão na Casa
sobre a questão "o
que nos une?".
Porém, o que se
observa é que os
fatores de desunião
é que estão sendo
fortalecidos. Da
perspectiva interna,
o desafio hoje é dar
coesão, sentido e
"espírito de corpo"
à organização, por
conta do alto nível
de fragmentação
existente
internamente.
Em 2018 teremos
eleições
presidenciais que
serão decisivas para
o futuro do país e
do Banco. E a
AFBNDES será cobrada
a desempenhar um
papel ativo, em
levar o tema "BNDES"
para o debate
nacional. Além
disso, uma vez
confirmada a
pretensão eleitoral
do atual presidente
Paulo Rabello de
Castro, teremos uma
mudança na
presidência do Banco
no início do ano.
Se isso de fato
ocorrer, o que a
AFBNDES espera do
próximo presidente é
o seu compromisso
com a defesa do
BNDES e de seu corpo
funcional, que estão
claramente ameaçados
pela
"criminalização" e
"desconstrução".
Um primeiro e
fundamental ponto:
os R$ 130 bilhões
reclamados pela
Fazenda não podem
ser liquidados
antecipadamente,
pois além de ser
ilegal, pode deixar
o Banco sem recursos
para cumprir suas
obrigações em 2018 –
o que seria uma
calamidade. Um
segundo ponto, a
sanha persecutória
dos órgãos de
controle, conforme
falou à imprensa em
sua despedida o
ex-diretor Ricardo
Baldin, precisa ser
enfrentada com uma
atitude mais firme e
altiva da
Administração. Uma
terceira questão é a
implementação da
Área de Comunicação,
que precisa ser
feita com urgência,
com o objetivo de
reverter a imagem
negativa do BNDES. É
necessário dar
respostas à
sociedade e mostrar,
de modo positivo, as
reais ações do Banco
em prol do
desenvolvimento
econômico do país.
Defender o BNDES
para que ele possa
continuar sendo o
Banco de
Desenvolvimento do
Brasil significa
defender os seus
instrumentos e o seu
corpo técnico. Pois
apenas de posse dos
instrumentos
adequados, com o
moral dos seus
funcionários elevado
e em um ambiente
interno e externo
"pacificado", o
BNDES poderá de
forma efetiva
cumprir a missão de
promover os
investimentos de
longo prazo na
economia real –
dimensão onde se
encontra as
variáveis de
produção, emprego e
tecnologia – e
contribuir para a
retomada do
crescimento
econômico do país . |