Especial 

30 de dezembro de 2022

Sobre prêmios, fatos e opiniões

O BNDES venceu em outubro, sem que houvesse concorrentes em disputa, a etapa regional (Minas Gerais e Centro-Oeste) do prêmio da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) na categoria “Comunicação e Relacionamento com Imprensa e/ou Influenciadores”. Isso o credenciou à etapa nacional, cuja empresa vencedora (a Gerdau) foi anunciada no fim de novembro.

O fato ensejou matéria na intranet e, em outras circunstâncias, poderia ser motivo de comemoração, mas causou incredulidade em profissionais da comunicação do Banco e em outros que lá atuaram. Isso porque a narrativa do caso — conduzida por assessores externos e uma empresa terceirizada — cria paralelos não apropriados entre o trabalho de assessoria de imprensa realizado atualmente e tudo que o precedeu.

Em apresentação do caso transmitida pelo canal da Aberje no YouTube e no próprio Em Dia, utiliza-se o IMS, índice que mede a saúde da marca na imprensa, como argumento para sustentar um suposto resgate reputacional do Banco. Indicativo disso seria que o índice atingiu, em 2021, “recorde da série histórica desde janeiro de 2015”.

Ocorre que o IMS de 2015 e o de 2021 são coisas distintas. Houve mudanças tanto de classificação quanto de fórmula para calculá-lo. Até meados de 2019, para chegar ao IMS, eram atribuídos pesos às notícias sobre o BNDES na mídia, considerando se eram positivas ou negativas, se haviam sido publicadas em veículos de abrangência nacional ou regional e se o Banco era protagonista ou coadjuvante na matéria. Menções neutras à instituição, embora contabilizadas, eram descartadas para efeito de cálculo.

De lá para cá, a fórmula de cálculo mudou. Optou-se por eliminar os pesos, desconsiderando a relevância do veículo e deixando de levar em conta o destaque dado ao Banco na reportagem (se manchete ou nota de rodapé, por exemplo). Ao mesmo tempo, menções neutras foram incluídas na fórmula e contabilizadas, para efeito de cálculo, como positivas. São opções gerenciais distintas, das quais resultam índices distintos e, portanto, incomparáveis.

O caso também destaca ter havido “bastante utilização de agências de checagem de fatos”, quando sabemos que, desde meados de 2019, a iniciativa própria de fact-checking do Banco (a seção “Fato ou Boato” da Agência BNDES de Notícias) foi abandonada.

O documento indica ainda que as equipes de comunicação atuaram, no passado, como espécies de repassadoras de respostas das áreas aos veículos de imprensa, sem que fossem feitas as devidas contextualizações, orientações e adaptações de forma e tom.

Ora, aceitar tal premissa implicaria em concordar com algo inimaginável: que uma instituição do porte do BNDES prescindiu, por décadas, das tarefas mais básicas de uma assessoria de imprensa. Isso vai de encontro ao trabalho de dezenas de profissionais — da Casa e do mercado externo — que se dedicaram à atividade pelo Banco.

Disso podem ser testemunha vários benedenses que, durante anos, no exercício de suas funções, foram fonte de informação para a assessoria, fornecendo dados, concedendo entrevistas, esclarecendo questões e atuando em conjunto com o objetivo de chegar ao melhor posicionamento possível para o BNDES na mídia.

Este texto, resultado de conversas com alguns colegas do Banco e da posse do documento pela AFBNDES (ao qual teve acesso via Serviço de Informação ao Cidadão), tem por objetivo restabelecer os fatos. À guisa de promoção institucional, não se pode pôr em xeque a atuação técnica dos profissionais que já passaram pela assessoria de imprensa. Como ensina um velho chavão repetido no mundo jornalístico, todos têm direito às próprias opiniões, mas ninguém pode ter seus próprios fatos.

A AFBNDES