Talvez a principal
diferença entre o
pensamento ocidental
e oriental seja a
visão de mundo a
respeito da
realidade. Enquanto
para o cidadão
ocidental a
realidade tem um
aspecto objetivo,
para o oriental ela
é dual. Essa pequena
diferença conceitual
leva à construção de
sociedades bastante
diferentes com
relevante impacto no
funcionamento de
suas instituições e
organizações.
Podemos citar alguns
desses impactos mais
facilmente
percebidos. O
ocidente
supervaloriza a
ciência em
detrimento da
filosofia e
religião, a razão
sobre a intuição, o
indivíduo sobre o
coletivo, o curto
prazo ao invés do
longo prazo, a visão
linear do tempo
contrapondo uma
visão holística. Já
o oriental percebe a
realidade como
subjetiva, dual (o
símbolo Yin-Yang
é uma boa
representação dessa
percepção), valoriza
os relacionamentos
contratualizando
menos as relações e,
com isso, desenvolve
melhor a colaboração
ao invés da
competição entre as
instituições. Para o
pensamento oriental
não há "A" verdade
absoluta, pois o
contexto é muito
importante para o
entendimento da
realidade.
Dito isso, gostaria
de abordar o atual
momento do BNDES sob
o prisma um pouco
mais oriental. O
contexto atual é
desafiador e há
vários paradoxos que
nos cercam e, muitas
vezes, tendem a nos
paralisar. A
convergência das
taxas de juros, a
mudança de nosso
funding para uma
taxa mais volátil, a
legítima pressão da
sociedade por maior
agilidade e mais
transparência, nossa
dificuldade de
comunicar a
efetividade de nossa
atuação e o aumento
das exigências de
compliance
compõem um quadro de
difícil solução.
Parece-nos paradoxal
termos que ser mais
ágeis, mais
efetivos, mais
transparentes,
prover maior
compliance e
trabalhar com
funding mais
caro. Acrescento
ainda a revolução
tecnológica que vem
varrendo vários
setores da economia
e que,
definitivamente,
está chegando ao
setor financeiro,
com os impactos
visíveis das
fintechs e
outros agentes na
concessão de
crédito.
Numa rápida
reflexão, se
aplicarmos o
paradigma ocidental
(da linearidade e da
continuidade como
caminho natural),
muitos pensarão que
não há saída. Não
vemos a saída porque
estamos presos num
modelo mental que
dava bons resultados
até há alguns anos.
É possível ainda
hoje pensar que a
organização não tem
que se reinventar,
se reestruturar para
os novos tempos?
Talvez alguns
esperem (ou desejem)
que algum fato novo
mude esse ambiente
porque entendem que
a situação não tem
saída.
Acho que é
necessário entender
que "ausência de
evidência não é
evidência de
ausência". Há
inúmeras saídas. E o
reposicionamento do
Banco é tarefa
nossa, sobretudo
nossa. O atual
Planejamento
Estratégico já traz
em si alguns
avanços, mas não
endereça todos os
pontos. Para além do
plano, a
transformação requer
o engajamento de
todos.
Gostaria de fazer um
chamamento a todo o
corpo funcional para
uma reflexão de
segunda ordem ou
reflexão crítica.
Temos 66 anos de
existência e em
muitos outros
momentos o Banco foi
capaz de se
reinventar. Temos um
corpo funcional
ético e de altíssima
capacidade técnica.
Temos capacidade e
legitimidade para
sermos o locus
de discussão do
desenvolvimento do
país, mas temos que
ter humildade
organizacional e
identificar onde
temos que melhorar.
Cito dois aspectos
importantes que
teremos que
endereçar melhor nos
próximos anos: nossa
interação com outros
órgãos
governamentais
(sermos mais
permeáveis às
políticas públicas)
e nossa capacidade
de gestão de
ambientes complexos.
Temos que lidar com
o paradoxo com o
qual nos defrontamos
hoje entre ser o
formulador ou
operador de
políticas públicas.
É necessário
dialogar mais com o
governo (diálogo
requer humildade),
tentar entender
melhor as questões
sob um outro prisma
que não seja somente
o nosso. Temos que
ser mais permeáveis
às críticas e
cobranças e estarmos
mais dispostos a
colaborar ao invés
de sermos sempre o
protagonista.
Paradoxalmente,
poderemos ter mais
protagonismo quanto
mais formos
colaborativos devido
ao imenso capital
humano que
possuímos. Há um
enorme desafio de
sermos mais
permeáveis às
inúmeras demandas da
sociedade e nos
mantermos uma
burocracia ética e
tecnicamente
respeitada. É
necessário
influenciar e deixar
ser influenciado,
construindo uma
relação mais
saudável com
governo, mercado e
sociedade.
Quanto à gestão de
ambientes complexos
entendo que o
desafio é ainda
maior. Todos os
elementos já citados
aqui vieram para
ficar: demanda por
maior agilidade,
melhor compliance,
mais transparência,
maior competição com
novos e velhos
atores, revolução
tecnológica que mexe
com as bases da
indústria. Não
podemos nos enganar.
É necessário
provermos respostas
à altura do desafio,
adquirindo novas
competências
técnicas e
gerenciais,
modificando nossa
estrutura
organizacional,
mudando nossa
cultura para
torná-la mais
empreendedora e
estimulando que cada
um de nós assuma
suas
responsabilidades
(definido em inglês
como
accountability).
A reestruturação que
começou em março
desse ano iniciou a
mudança necessária
nas nossas
competências de
gestão. Já houve a
criação de novas
atribuições na
estrutura, tendo
como destaque a
criação das Áreas de
Fomento e Originação
e de Comunicação e
Relacionamento
Institucional, bem
como a incorporação
de novas funções na
Área de
Desenvolvimento de
Projetos.
Na nova etapa que se
iniciará em agosto,
vai haver o
alinhamento da nova
estrutura com a
estratégia do Banco,
introduzindo a
especialização e
segregação de
funções,
concentrando funções
de backoffice
e repactuando-se
responsabilidades
entre áreas de
negócios e de
suporte a negócios.
Haverá também o
balanceamento de
recursos e níveis de
responsabilidade
(redimensionando de
áreas prioritárias a
partir das projeções
de negócio e revisão
da pirâmide
organizacional).
Importante salientar
que a amplitude de
controle será
baseada na natureza
da atividade, sendo
maior em atividades
rotineiras. Outro
objetivo dessa
segunda fase é
melhorar a alocação
do técnico de nível
médio do Banco,
criando
oportunidades de
melhorias na
qualidade do
trabalho realizado
por esse
profissional. Essas
mudanças transcendem
o processo eleitoral
e um novo governo.
A participação e
engajamento do corpo
funcional é
desejável e já vem
acontecendo em
várias dimensões.
Alguns exemplos
dessas mudanças são
o plano de fomento
estruturado que vem
sendo desenvolvido,
a nova segmentação
de produtos que
resultará num
conceito mais
moderno de política
operacional, a
criação de produtos
automáticos diretos
(FINAME Direto e
Crédito
Compartilhado) e o
lançamento do
Garagem BNDES, entre
outros.
Se você acha que o
BNDES está parado,
procure saber. O
BNDES se encontra em
movimento.
Enfim, entendo que
ao término deste ano
o BNDES estará mais
preparado para
enfrentar seus
desafios, mas
entendo também que a
execução do
Planejamento
Estratégico é
condição necessária,
mas não suficiente.
Como já dito aqui, é
necessário
engajamento do corpo
funcional, maior
responsabilização
individual pelos
resultados e darmos
início a um amplo
debate sobre
desenvolvimento,
capaz de trazer
relevância para esse
tema na sociedade.
Há uma imensa
oportunidade do
BNDES se posicionar,
em suas inúmeras
vertentes,
(infraestrutura,
mercado de capitais,
IOT, indústria 4.0,
agronegócio,
sistemas de inovação
etc.) como um hub
no ecossistema do
desenvolvimento.
Desenvolvimento de
longo prazo é a
nossa vocação
natural e, mais do
que nunca, o BNDES
precisa ocupar
melhor esse espaço.
Mas, para isso,
precisamos ter a
coragem de sair da
zona de conforto e
implementar as
mudanças necessárias
para o enfrentamento
do ambiente complexo
em que vivemos.