Vizzini: He didn't
fall?! Anticyclical!
Inigo: You keep
using that word. I
do not think it
means what you think
it means.
(A
princesa prometida)
Passava pouco das
nove, como costumam
ser os eventos na
nova disciplina que
rege o Banco, e no
palco já estavam os
personagens. O mais
informal da dupla de
gaúchos, grão-mestre
da meiaçonaria
benedense, faz uma
piadinha com
Gustavo, que naquele
momento não calçava
uma dessas meias que
é moda entre aqueles
que não são hipsters
o bastante para
deixar uma barba.
Não sabia ele que
aquilo tinha um
sentido maior.
Os números de 2019
são apresentados.
Ano em que o
investimento foi
pífio e, portanto,
os números do Banco
mais ainda. A venda
das ações é a grande
glória, com seu
lucro, grande lucro.
Há comentários que
beiram o festivo
sobre a venda das
ações da Petrobras
pouco antes da
hecatombe que abateu
o Mercado. Nossa
volatilidade
reduziu, e do palco
ouvimos que isso é
bom.
Ao sair, uma amiga
me sinaliza como
positivo que Gustavo
falou anticíclico
mais de uma vez. Eu
não compartilho
dessa visão: nada
ali fora dito de
concreto. Horas
depois, na coletiva
de imprensa, os
jornalistas
chegariam
à
mesma conclusão que
eu. No dia seguinte,
Guedes anunciou a
mesma coisa, qual
seja, nada, para
perplexidade do
filho de Cesar Maia,
este que é um cara
algo esquisito,
atualmente vereador,
mas certamente um
dos detentores de
mandato popular que
melhor ocuparia a
vaga de Guedes neste
momento. Por que
falo isso? Porque
depois do anúncio
das
medidas nesta
segunda-feira, o
prazo de Guedes
definitivamente
expirou. Nada, com
viés de baixa. Hoje
tanto ele quanto
Montezano têm
Joaquim Levy
como régua para
dizerem que não
foram tão ruins
assim. Gustavo já
fez o bastante para
superar esse piso;
Guedes apresentou a
britadeira com a qual
cavará
uma catástrofe maior
que a de 2015.
Dentre aqueles com
os quais
convivi,
os dois presidentes
do Banco que melhor
enfrentaram grandes
crises foram Luciano
e Mendonça. O que
eles tinham em
comum? Além de
desenvolvimentistas,
ambos participaram
de fracassos do
governo
Sarney. Luciano da
política de reserva
de mercado de
informática,
Mendonça no BACEN
quando o Plano
Cruzado sucumbiu.
Esses fracassos
certamente lhes
deram a sagacidade
de saber que erros
não se repetem, e
que o evento supera
qualquer princípio
que oriente seu
projeto adventista.
Ambos souberam, no
momento de crise,
agir em coordenação
com
a
Fazenda ou com o
BACEN de forma a
impedir que a
economia brasileira
fosse chacinada
durante uma crise.
Mendonça, no ataque
especulativo que
aconteceu na crise
da Ásia, entrou
comprando ações e
evitando uma debacle
na Bovespa, em
sintonia com a ação
de Gustavo Franco
nos mercados
futuros. Luciano, em
coordenação com
Mantega, fez do
Banco o canal de
estímulo econômico,
dado que o BACEN de
Meirelles estava
mais preocupado em
executar sua inação
anti-inflacionária.
Cercado de pessoas
de perfil adequado,
a imagem e
semelhança do
governo
ao qual pertence,
Gustavo anuncia
nada. A preocupação
maior parece ser com
a gradual destruição
da carteira de ações
sob o pretexto de
indicadores que em
nada traduzem o
funcionamento do
Banco, e na
“rádio
corredor”
ouvem-se fábulas de
um pacote de
maldades, como o
retorno aditivado do
malfadado span e a
destruição maciça de
funções abaixo de
chefe de
departamento,
economia de tostões
com forte impacto
negativo no clima do
Banco. Será que não
ficaram esquecidos
uns livros da
biblioteca de Carlos
Da Costa para esses
financistas darem
uma olhada?
O que poderíamos,
BNDES, estar
fazendo? Há uma
série de medidas que
foram propostas
pelos sups, segundo
ouvi na
“rádio
corredor”
(aliás, o fim do
Baixo BNDES no S1
foi uma bela medida
para desarticular as
comunicações
informais do Banco.
Parabéns ao
terraplanista
desconhecido da
primeira metade do
século XX que acabou
com o melhor
watercooler que
este Banco já teve).
Boas medidas, coisas
que fazem o maior
sentido.
O que eu
acrescentaria? Pra
começar, pedir a
Brasília que fixasse
a TJLP em 0% durante
pelo menos um ano.
Isso reduz a TLP e,
principalmente,
alivia a pressão
sobre as empresas.
Como medida
adicional às
propostas pelos sups,
acho que cairia
muito bem.
O segundo ponto, o
qual acho que parte
do timing já foi
perdido, seria
retornar ao mercado
de ações, fazendo
uma intervenção de
vulto visando
recuperar um pouco
do que foi perdido.
Vários bancos
centrais operam nos
mercados de bonds
corporativos, e
alguns chegam a
operar no mercado de
ações. Guedes e
Gustavo parecem não
perceber que quem se
ferrou com essa
baixa são exatamente
as pessoas que
votaram para
que
eles estivessem em
seus cargos, as
pessoas físicas que
convergiram ao
mercado de ações com
a baixa da SELIC.
Trump, um empresário
bem mais qualificado
do que o
profissional da
política que
terceirizou a
economia com
porteira fechada ao
posto Ipiranga, sabe
muito bem disso.
Nenhuma, por si só,
resolve Guedes.
(*) Economista do
BNDES. |